OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


29.7.04  

Escolinha de Verão.

Vou ter que adiar uma resposta mais sustentada às reacções ao post sobre nacionalismo. Nem o clima da Zamba nem a lentidão da net local permitem mais. Mas não posso deixar de deixar uma deixa (!) sobre o (extenso!) debate que acontece aqui ao hiper-lado a propósito do post sobre o Manifestário.

E o que me ocorre é um back to basics, dedicated to Nuno Santos. Às vezes o melhor é começar pelas bases:

Ninguém nasce hetero ou homo. As pessoas são construídas hetero ou homo (assim como são construídas como homens ou mulheres, em termos de género). 'Construídas' não quer dizer que haja um complot, com agentes conscientes (embora também os haja). Quer dizer que há modelos complexos, de relações, instituições e símbolos, que empurram as pessoas para certas práticas e discursos (que, no caso da sexualidade, redundam, entre outras coisas, em orientações).*

Acontece que a heterossexualidade, como sistema complexo que é (político, social, etc, e não estritamente 'sexual', até porque o estritamente sexual provavelmente não existe...) é não só dominante, como é mesmo hegemónica. Não admira, pois, que a maioria das pessoas sejam hetero.

Mas a heterossexualidade faz parte de um sistema. Qualquer sistema simbólico é feito de oposições: a heterossexualidade só existe na medida em que define uma sua negação. E essa negação é a homossexualidade.

O que é que isto quer dizer? Que a homossexualidade também é uma orientação definida pelo sistema em que vivemos, logo uma orientação disponibilizada às pessoas. Daí que haja, também, homos.

Mas: o sistema não estabelece uma simetria, mas sim uma assimetria. Isto é, a homossexualidade é vista como negação negativa e subordinada da heterossexualidade. Daí que, por um lado, seja possível algumas pessoas acederem à homossexualidade (ela está presente nos discursos sexuais, no leque de possibilidades da estrutura social-sexual), mas que sejam uma minoria as pessoas que o fazem.

E agora a porca torce o rabo: fazem-no em condições de desprivilégio.

A nossa luta não é (isso seria uma luta pela utopia, coisa a que pessoalmente não estou disposto por falta de tempo... de vida) pelo fim do regime sexual que define o binómio hetero/homo, mas sim pela saída da homossexualidade da situação subordinada.

Uma das principais formas de isso ser feito é usando os símbolos da própria opressão, invertendo-lhes o sentido, transformando o vergonhoso em fonte de orgulho, dando a ver o que os outros querem ocultar ou voyeuristicamente usufruir, transformando a identidade negativa e subordinada em identidade positiva e tendencialmente hegemónica (toda a gente tornar-se um pouco gay...). As mulheres fizeram-no, os negros fizeram-no, nós estamos a fazê-lo.

Daí as marchas, daí a coragem de travestis, transexuais, drag queens, de gays e lésbicas 'promíscuos' ou de gays e lésbicas que 'passam' por heteros e vivem em relações monogâmicas. Ou dos Nunos Santos que podem perfeitamente vir às marchas dar uma mãozinha.

Peço desculpa pelo paternalismo (sou prof, que querem?), mas isto ajuda?

*'Construção social' é um processo complexo, com inúmeros actores, imensos 'cordelinhos' e mecanismos de suporte. A pessoa 'construída' como homo ou hetero passa a ter essa característica como uma disposição, algo que não se desfaz pela simples vontade da pessoa ou de um terapeuta (uma vez que não foram eles que construiram). É completamente desonesto inferir a partir da teoria construcionista que as pessoas possam mudar de orientação sexual através de 'curas'. O que tão-pouco significa que a orientação sexual seja inata.


mva | 20:10|
 

Adenda ao post anterior.

Nenhuma das duas visões do mundo dominantes se aguenta : nem a 'corrida de ratos' nem a 'meninos à volta da fogueira'.  Só há duas alternativas: uma, 'as coisas são assim e sempre foram assim' e outra, 'vamos conversar ( e debater e lutar a sério, por mais igualdade e mais diversidade)'.

O meu clube é a última.

mva | 20:05|
 

Ditaduras.

Aconteceu há dias aqui na Zamba com um checo. Já não é a primeira vez que conheço pessoas de Leste que demonstram, junto com um aparente savoir vivre, ideias que eu considero reaccionárias e que vão desde o elogio absoluto do mercado até visões sociobiológicas. Percebe-se (mesmo que não se aceite) perfeitamente. Sair duma ditadura dita socialista gera efeitos diferentes dos de sair de uma ditadura católico-provinciano-fascistóide como as ibéricas. É que o fim das segundas gera a sensação de se ter saído de algo de Antigo, de um conservadorismo que, mais do que proposta política, é semelhante ao estado das coisas, familístico, religioso, preconceituoso ('naturalmente' reaccionário). O fim das primeiras, pelo contrário, gera a sensação de se ter saído de uma engano desonesto, onde a utopia de um mundo mais solidário se revelou uma enorme trapaça. Efeitos da globalização e pró-americanismos à parte (e diferença de contexto histórico), não será por isto que ibéricos e Leste-europeus reagiram de forma tão diferente à adesão à adesão à UE?

PS: que não se veja neste post nenhuma suavização das ditaduras de direita!

mva | 19:51|
 

Pequena manifestação nacionalista.


mva | 19:48|


28.7.04  

Portugal a arder.


mva | 16:18|
 

VISTO.



Shrek 2. Uma desilusão: ritmo errado, personagens a mais, demasiadas piadinhas mal conseguidas, desequilíbrios, e por aí fora. Fica far, far away do primeiro, um filme delicioso.

mva | 15:35|
 

Hot!


[Foto: David Clifford, Público]

Genial. Não há como um pouco de camp e espanholada para alegrar um Parlamento. (E dá saudades do Público dirigido por Vicente Jorge Silva).

mva | 15:29|


27.7.04  

Correio atrasado.

Há tempos fiz um post em que escrevia contra o nacionalismo, usando o exemplo da Estónia. Recentemente recebi um mail de Priit Kivi, uma cidadã daquele país residente em Portugal. Diz ela que acha que eu estou errado, que devia aprender mais sobre a Estónia e que ali os Russos são os ocupantes. Termina dizendo que os estónios  não são nacionalistas, mas os russos sim.

Priit Kivi autorizou-me a referir aqui o seu mail. Sem querer pessoalizar, acho que é um exemplo das contradições do pensamento nacionalista, seja na Estónia, na Rússia ou em Portugal.  Repare-se: o nacionalismo é apresentado como um defeito que Os Outros têm e Nós não; e os Outros - que vivem agora, no presente, entre Nós - são categorizados pelo que aconteceu no passado.

É verdade que, para todos os efeitos, a Estónia foi ocupada pela URSS. É verdade que muitos russos foram para ali, numa mescla de migração interna soviética e de encapotada russificação. E é com certeza verdade que muitos indivíduos russófonos da actual Estónia serão saudosistas da URSS e adeptos da Mãe Rússia. Mas até que ponto pode isso legitimar a recusa em conceder-lhes a cidadania? Até ponto nenhum. E até que ponto pode esta História concreta legitimar a ideia do estado-nação unicultural? Até ponto nenhum, a meu ver.

Histórica e sociologicamente pode compreender-se o que aconteceu em muitos países do leste que agora conduz a um renovado nacionalismo de século XIX em versão XXI. Mas outra coisa será aceitar isso como bom. Percebe-se que o nacionalismo possa ser o recurso identitário em tempos de globalização e em tempos de pós-"socialismo". Mas esse carácter reactivo nada tem de emancipatório e inclusivo, pois na melhor das hipóteses resulta no regionalismo espanhol como forma de aproximar o poder dos cidadãos, na hipótese intermediária numa sociedade dual à Estónia e, na pior, resulta nos massacres da Bósnia, da Sérvia, ou do Kosovo.

mva | 17:10|


23.7.04  



1. Queremos ser homens a sério, vestir fato e gravata, falar com gravidade, e contar anedotas sobre toda a gente que não seja homem a sério, que não vista fato e gravata, que não fale com gravidade, e que não conte anedotas sobre toda a gente que não seja homem a sério.
2. Queremos casar com mulheres espampanantes que nos acompanhem aos coqueteles e que de vez em quando possam ser secretárias de Estado de qualquer coisa.
3. Queremos ter filhos, dar-lhes nomes sonantes, e pô-los em colégios privados e católicos onde os ensinem a casar-se com mulheres espampanantes que os acompanhem aos coqueteles e que de vez em quando possam ser secretárias de Estado de qualquer coisa, assim como, aliás, as nossas filhas.
4. Queremos poder defender em público e na política os valores sólidos e tradicionais da família e da sociedade, sem pestanejarmos e sem manifestações efeminadas como o rubor das faces.
5. Queremos uma sociedade onde haja um respeito escrupuloso pela vida privada e onde o que cada homem faz depois da meia-noite ou nas viagens de negócios seja com cada um, assim como os olhos negros que as mulheres adquirem ao cair das escadas são assunto privado delas.
6. Queremos uma sociedade sem manifestações de exibicionismo, histeria e efeminação e onde os gays possam estar tranquilos e protegidos em seus bares com campaínha à porta e cabides para pendurar os fatos e as gravatas .
7. Queremos ir para a cama com outros homens casados com mulheres espampanantes e que também defendam o valor sagrado da vida privada, ou com homens que não sendo casados com mulheres espampanantes saibam respeitar o valor sagrado da iniciativa privada e nunca nos acompanhem aos coqueteles.

mva | 16:45|
 

LIDOS.


 
Oryx and Crake, da Margaret Atwood. Deliciosa, cínica e cruelmente lúcida viagem a um mundo depois do catastriunfo da biotecnologia. A mulher é doida e é por isso que gosto dela.

O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa. Embora me pareça sempre que ele poderia ir mais longe (e que a poupança na sua narrativa não é sobretudo economia), gostei da ideia do homem que inventa genealogias para os envergonhados (ou desavergonhados?) no poder. Passa-se em Angola, mas dava tanto jeito uma versão portuguesa...

Podéis Besaros, tradução espanhola de mais um Ralf Konig (onde é que estão as #/%#!! das tremas no teclado do portátil do P.?). Gosto muito destas BDs e esta, em particular, aborda a questão do casamento gay e lésbico de forma genial. Isto é como o jewish humor - só quem está dentro é que sabe e pode fazer... Em Portugal pode comprar-se através das nossas amigas da Zayas.

mva | 16:28|
 

Descoberta paralela (hint, hint, Boss).

Estou a descobrir com muito prazer o Resistente Existencial. É bom quando isto acontece.

mva | 16:25|
 

Bela com senão.

Hoje o azul do mar desapareceu e virou cinzento. O quentinho que acaricia a pele foi substituido por uma caloraça húmida que nos transforma em destiladoras humanas. Até as rochas, normalmente um requinte de jogos abstractos, ficaram feias numa uniformidade cinzentona. Mosquitos e moscas chamam a este quadro um festim. Só me ocorrem imagens do Coração das Trevas do Conrad, ou do Apocalypse Now. Coitados dos alunos cujos exames vou corrigir neste estado... (just kidding).

mva | 16:18|


21.7.04  

Os vampiros trapalhões.

Consta que a lenda do conde Drácula tem a ver com o simbolismo dos senhores feudais vistos pelos camponeses como sugadores de 'sangue' (o sangue como metáfora do corpo/esforço de quem trabalha). Imaginem agora que numa terra distante da Transilvânia os vampiros nem sugar sabiam. Pobres elites. Deletes.

Conhecem o argumento da direita neo-liberal sobre a esquerda como um bando de preguiçosos que querem viver à custa do Estado e não sabem fazer nada a não ser sonhar com os amanhãs que cantam? Pois a mim cada vez mais me parece ser uma acusação reversível. Quando olho para a constituição do governo do primeiro-ministro não-eleito Santana Lopes, sinto estar perante uma atabalhoada trapalhada. E as trapalhadas costumam surgir quando as pessoas estão habituadas a viver de privilégios, à conta do Estado e conseguindo (ou dando) empregos mais por compadrio do que por mérito.

De qualquer modo, historicamente são as classes possidentes (possidónias?) que vivem à conta do Estado e do trabalho (o marxzinho da mais-valia pode ser chamado à colação, porque não?), que beneficiam com a fuga fiscal, que obtêm benesses pela simples evocação de nomes e pertenças familiares, e por aí fora.

Quem me dera estar enganado. Quem me dera poder dizer-me com calma que há que dar uma chance (mesmo a um governo de um primeiro-ministro não-eleito). Mas isto é como com alguns alunos em prova oral: quando começa a trapalhada, a trapalhada não tem fim.

PS. Hoje estou assim um bocadinho comunista...

PPS. O P fez rapidamente as contas: em 19 ministros, 3 são mulheres; em 37 secretários de Estado, 4 são mulheres.  

mva | 20:01|
 

Back to basics
 

mva | 13:20|
 

As tribos de Marselha.

Em Marselha estavam cerca de 300 LGBTs, distribuindo-se por muitos seminários, workshops e actividades paralelas. Deu para perceber as linhas divisórias não só políticas como identitárias. A primeira é a que opõe lésbicas a gays, marcada pela necessidade das primeiras de serem mais afirmativas na sua visibilidade face a uma clara hegemonia masculina, que decorre de razões sociais mais vastas. A segunda é a que opõe as pessoas, sobretudo mulheres, que se reclamam de feministas e aquelas, sobretudo homens, que não sabem sequer o que quer dizer. A terceira é a que opõe os 'politizados' aos não politizados, i.e., entre quem insere a política sexual em questões mais vastas de poder e discriminação e quem tem uma perspectiva mais identitária. A quarta é a que opõe as pessoas envolvidas no lobbying mainstream, como por exemplo os responsáveis da ILGA Europa, e os radicais, politizados à esquerda, como as Pantheres Roses. A quinta, replicando de certo modo a quarta, é a que opõe as pessoas pragmatistas ou reformistas, preocupadas com as conquistas e a negociação, às pessoas revolucionárias ou utopistas, preocupadas com a alteração geral da ordem das coisas (patente no debate entre quem acha o casamento uma instituição opressora e quem acha que o acesso de LGBTs ao casamento é um direito civil).

Como é evidente, só por razões de clareza de pensamento é que estas oposições são separáveis. Na realidade, elas sobrepõem-se. E, por outro lado, são quse sempre graus de cinzento e não oposições a preto e branco.

Mas outras linhas divisórias ficaram patentes. São aquelas que têm mais a ver com estilos de vida (não deixando de ser políticas): forte mesmo é a oposição entre os apologistas do bareback e os militantes da Act Up que os acusam de criminosos irresponsáveis; outra é a que opõe as pessoas que preferem múltiplos parceiros e relações abertas, versus pessoas que preferem relações monogâmicas; outra ainda é a que separa pessoas que gostam de concordância de género versus as que gostam de gender fucking, com formas várias de travestismo ou drag queenismo, permanente ou ocasional. Curiosa ainda foi a feroz presença de surdos, que levou à exigência de traduções simultâneas em todas as sessões e a queixas de discriminação interna no movimento. Se a tudo isto juntarmos divisões transversais de classe, etnicidade, nacionalidade, gosto, religião (complicados, os Católicos do grupo David e Jonathan versus o humor das Soeurs de la Perpetuelle Indulgence... - e ver as originais americanas) vemos como o universo LGBT é de uma diversidade imensa. Curiosamente, em Marselha havia uma ausência gritante de LGBTs árabes e/ou muçulmanos, justamente numa cidade e país onde constituem (os árabes e muçulmanos) uma enorme comunidade. A tratar da área só estava o Adnan Ali (anglo-paquistanês, o que é toda uma outra coisa face a um magrebino francófono...), da associação Al-Fatiha (e, curiosamente, companheiro de um português, que visita na terrinha todos os fins de semana...)

Daí alguma sensação de estranheza identitária quando se está durante uns dias num meio assim. É que, como dizia a minha pessoa favorita, o que nos une é a luta contra a homofobia, e o resto, diria eu, até pode afastar-nos (deliciosamente e sem drama). No limite - e nos dias em que estou mais irritado - há tantas sexualidades quanto pessoas. No limite, limite, eu sou miguelsexual...

mva | 12:36|
 

De regresso à terra pá(t)ria.  
 
Talvez o que mais me tenha marcado em Marselha tenha sido a apresentação feita por activistas da Polónia e da Sérvia. Os primeiros passaram um vídeo dos acontecimentos da primeira marcha realizada em Cracóvia, que terminou em violência, com o ataque com pedras e ovos por parte de activistas ultranacionalistas e fundamentalistas católicos da Liga das Famílias Polacas, grupo maioritário polaco no Parlamento Europeu. No caso sérvio, algo de semelhante aconteceu. A primeira marcha de sempre em Belgrado foi atacada por 1000 hooligans dum movimento ultranacionalista liderado por um padre ortodoxo. No início apenas dez polícias estavam presentes e foram linchados. Cerca de quarenta gays e lésbicas terminaram no hospital com ferimentos graves. As imagens de pessoas a levarem pontapés na cabeça puseram-me num estado deplorável.

Numa conferência de imprensa, um dos atacados, ainda com a cara ferida e os olhos negros, dizia uma frase fortíssima: 'hoje aprendi o que é ter o funcionamento de uma sociedade inscrito no meu corpo'. Mas o mais chocante são as declarações dos 'inocentes transeuntes', como uma senhora que diz que as lésbicas e os gays não deviam sequer sair à rua, pois assim só provocam violência: 'deviam ficar em casa e procurarem curar-se. Além disso são uma minoria e nós a maioria, e devem habituar-se a isso'.
 
Os nossos amigos polacos e sérvios não organizaram marchas este ano. Representando a Polónia, estavam dois jovens muito jovens, um rapaz e uma rapariga de ar frágil. Mas com uma força incrível, pois estão já a planear um grande pride para o próximo ano e precisam da nossa ajuda. Vinda de Belgrado estava presente a Jasmina, uma lésbica do grupo Labris que, de forma mais fatalista, não vê como seja possível vir a organizar outra marcha, pelo menos não sem que a UE antes faça exigências à Sérvia para alterar as leis e garantir a segurança.
 
Mas convém lembrar que, ao contrário da Sérvia, a Polónia já é parte da UE...  E, comparando com a nossa situação, os nossos amigos de Leste estão mesmo mal. Se calhar é altura de nos solidarizarmos e oferecermos ajuda. Ao nível europeu está a tomar forma a ideia de uma romagem a Belgrado no próximo ano para fazer uma grande marcha com gente de vários países; e no caso da Polónia - em Cracóvia - já está em marcha a ideia de fazer um congresso nos dias do Pride, de modo a legitimar perante as autoridades os assuntos lgbt (a Liga das Famílias Polacas está a fazer uma petição para um referendo para destituir o Presidente da Câmara por ter autorizado a marcha e ter, assim, contribuido para 'promoção da depravação').
 
Não fiquemos parados, feitos párias, queixando-nos dos nosso problemas. Darei mais notícias sobre isto à medida que houver novidades.
 
PS: neste fim de semana de ausência, a Zamba foi achocolatada pela Sara e pela Rita ( o meu favorito diz que foi muito agradável) e o meu blog foi apimentado pelo fenómeno mmg. Às primeiras desejo cada vez mais chocolate, ao segundo... um boletim de inscrição na Liga das Famílias Polacas.

mva | 02:28|


15.7.04  

On the road.



Este fim-de-semana vou estar na Université d'été euromediterranéenne des homosexualités em Marselha. Depois dou notícias do evento. Até segunda-feira, deve haver pouca postagem, a não ser que haja um ciber à mão.

mva | 13:08|
 

«Pronto, muito engraçado mas agora já chega e vai lá pra fora pró quintal. Ai, o bicho....»

O fenómeno MMG (ver comentários - e com certeza o comentário que ele ou ela vai fazer a seguir a este post...) é, como hei-de dizer?, interessante... Não há como um blog para a homofobia dura (e a interiorizada) se mostrarem à luz do dia aqui em brandoscostumesland. A intricada e pormenorizada lista de fantasias sexuais, linguagem e fantasmas com que MMG nos presenteia não me insultam nem me assustam um grama, um milímetro, uma gota. São puras imagens de espelho: MMG está a comunicar consigo mesm@, e eu/nós apenas temos que aturar a sua terapia (pena é que não possamos cobrar 100 euros à hora).

Mas sabem como é com aqueles animais domésticos irrequietos, que achamos piada durante 15 minutos e depois já só queremos fechar no canil a sete chaves e sete metros de distância? Pois. Por uma questão de civilidade, MMG será banido da caixa de comentários em breve, depois de nos ter divertido o suficiente. Uma vez banido, terá que ir a outra freguesia procurar inspiração para a sua curiosa mistura de erotismo e (auto-)ódio.

We're queer, we're here, get used to it. (And get a life, will 'ya?)

mva | 12:51|


14.7.04  

Verão, so eighties.



Foi há mais de 20 anos, no navio 'Ponta Delgada' ligando a cidade do mesmo nome à Horta. Um bando de estudantes de antropologia em férias, mais um agora conhecido fotógrafo e um agora conhecido escritor e televisivo. Dois dos futuros antropólogos - um deles este vosso servo - iam fazer pesquisa sobre os últimos caçadores de baleia. A bordo encontraram um grupo de estudantes de biologia. Uma delas tirou esta foto que, décadas depois, me aparece na inbox. Afinal o passado existe mesmo, com cores desmaiadas e tudo. Obrigado Vanda.

mva | 13:49|
 

Que fazer?

Mesmo que o cálculo político de Vitorino tenha a ver com as presidenciais, a sua recusa em 'tomar conta' do PS pode muito bem ter a ver com outra coisa: o susto com a política nacional e com o funcionamento dos partidos. É perfeitamente compreensível que pessoas com profissões privilegiadamente gratificantes hesitem em atolarem-se na política institucional contemporânea (não creio que as instituições europeias caibam na definição, até porque são mais burocráticas que democráticas).
A posição simétrica a esta hesitação das 'elites intelectuais e profissionais' é a da vox populi mais rasteira: 'ele' são todos chulos, 'eles' querem é poleiro, e por aí fora. Perante a fuga de uns e o desprezo de outros, o campo fica aberto para a mediocridade e/ou para o oportunismo. É assim que acabamos santanados.

Mas que fazer, então, quando se acha que ter conhecimento e exercer influência implicam, também, responsabilidade cívica? Sem dúvida que é legítimo e compreensível apostar na profissão, no exercício da cidadania no dia a dia e no local de trabalho, e na intervenção política indirecta - em artigos, livros, blogs, activismos, movimentos, causas, etc. (sim, também estou a falar de mim e já não estou a falar do Vitorino). Mas chegará? E como se pode aceitar correr o risco de entrar num universo de constante suspensão de princípios e de autonomia (muito para lá da mera negociação que existe em qualquer área da vida desde que não se viva sozinho numa gruta)? Em suma, que fazer?

Pois não sei. E é isso que me dana.

mva | 13:36|


13.7.04  

A saque?



Cada vez há mais sinais de o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina poder vir a estar a saque. Isto é, vão surgindo notícias de excepções, de projectos e de desenvolvimentos (os dois últimos entre aspas)que apontam no sentido da abertura ao imobiliário (que, como toda a gente sabe, tem a característica de, uma vez estabelecido, ser 'imóvel'...). Há uma petição online com já quase 30 mil assinaturas.

mva | 13:10|


12.7.04  

A organização irresponsável e perigosa.

Medina Carreira, no 'Diga Lá Excelência' de ontem respondia assim à pergunta sobre o que lhe ocorria dizer ao ouvir a expressão 'Bloco de Esquerda': 'todas as organizações irresponsáveis são perigosas'. Creio que MC, partindo da premissa ideológica de que o Bloco é 'perigoso', inferiu que é também irresponsável... A ideia de irresponsabilidade relativamente ao pensamento e activismo radical assenta em noções muito contestáveis sobre a ideia de normalidade e estabilidade (o peso que esta palavra passou a ter...).

Acontece que acho que se um dia o BE chegasse ao governo (não me parece que tal aconteça, pois a sua natureza é outra; e se acontecer há-de ser depois de as suas ideias terem contaminado sectores mais vastos da política e da sociedade) o que faria seria convidar figuras de renome técnico e profissional e teria muito pouc@s ministr@s dirigentes do próprio movimento. Creio mesmo que muitos desses convites seriam dirigidos a pessoas que também poderiam ser convidadas para um governo PS...

Creio ainda que o papel social, político e até histórico do BE é introduzir na sociedade portuguesa uma agenda política contemporânea QUE SERIA OBRIGAÇÃO DO PS INTRODUZIR. Não há nada no programa e propostas do BE que possa ser apontado como 'revolucionário' ou que não pudesse constar de uma agenda PS, fosse o PS mais semelhante ao PSOE. É aliás por isso que os ataques ao BE são feitos não pelo lado da acusação de 'marxismo' mas pelo da acusação de 'causas marginais' ou 'da moda' ou - o que não quer dizer nada - 'fracturantes'.

O senão simbólico do Bloco, aproveitado à exaustão pelos adversários, é a origem do movimento nos partidos iniciais. Mas acontece que não só essas organizações fieram os seus aggiornamenti, como o Bloco tem hoje mais militantes e simpatizantes vindos de nenhum partido, do que militantes da UDP, PSR ou mesmo Política XXI. Serão, a meu ver, estas pessoas, a contribuir para um Bloco cada vez mais aberto, plural e influente na sociedade e a evitar qualquer deriva, como se dizia no 'meu tempo', 'esquerdista'. As mesmas pessoas que adeririam ao PS, não fosse este a enorme banana alaranjada que é.

mva | 20:31|
 

Esqueci.

No meio da crise política, doravante conhecida nos anais médicos como Sampaiitis Retardata (ou, em teologia, como Santanasia Satanica), e do Z-mode da Zamba (OK, hoje estou críptico), esqueci de referi dois VISTOS: no cinema, em Lx, Cypher. Embora empasteladote, satisfez-me a veia ficção científica; em DVD, já no Protectorado de Zambaland, Fucking Amal (cada a tem uma bolinha sueca por cima que não consigo digitar), um belíssimo filme sobre a) os horrores do tédio provinciano, b) os horrores do controlo social adolescente, c) os horrores (mas também os prazeres) da descoberta do amor e d) os horrores (mas também os prazeres) do coming out duma rapariga lésbica. E com a beleza da língua sueca.

mva | 20:20|
 

Novos blinks.

O Simão Mateus tem agora uma página. O Simão tem sido um dos mais constantes activistas do movimento lgbt - e um dos mais 'descentralizados'.

Mas o dia ficou marcado por algo que me toca mais fundo: a minha pessoa favorita fez hoje umas belas aparições no R'n'V. Estou práqui cheio de pride... orgulho, pois.

mva | 20:09|


11.7.04  

Cada vez gosto mais deste homem.



Se fosse espanhol até seria bem provável que eu pertencesse a outro partido que não o PSOE. Mas Zapatero ganhou a onda da revolta democrática espanhola. Prometeu tirar as tropas do Iraque, e fê-lo. Prometeu sanear o Aznarismo e está a fazê-lo. Toca-me particularmente que tenha prometido o casamento civil para homossexuais e que vá mesmo cumprir. Com o apoio do seu partido e da maioria da sociedade espanhola.
Imaginem isto cá. O PS propondo em eleições o casamento gay; O PS sendo maioria mesmo com essa promessa; e o PS cumprindo a promessa. Pois se nem o meu Bloco ainda falou do assunto... (um dia 'o assunto' há-de chegar à agenda política portuguesa, eu sei; mas dava para apressar um bocadinho? É que já vou fazer 44 anos...). E sempre quero ver como a política portuguesa vai reagir ao cada vez maior vanguardismo espanhol na Europa: provavelmente com umas barbaridades subjectivas sobre diferenças culturais e históricas entre Portugal e a Gronelândia, perdão, a... Espanha.

mva | 23:23|
 

Patri(di)otismo.


Algum patridiota fez esta patridiotice nas rochas da Zambujeira.

mva | 23:09|
 

PPR.

mva | 23:03|
 

Mattachine.

Cada vez que oiço ou leio a lengalenga (para mais vinda do próprio campo lgbt) contra o 'exibicionismo' ou o 'orgulho' (já o orgulho nacional e da selecção não é posto em causa...), lembro-me sempre da mesma história: nos finais dos anos 50 e inícios de 60, o 'movimento' gay americano centrava-se na Mattachine Society, que obrigava os seus membros a vestir fato e gravata e a falar e mexer-se 'como homens', de modo a não chocar 'a sociedade' e a conseguir passar a mensagem. Aborrecidíssimas reuniões com community leaders e representatives sucediam a aborrecidíssimos jantares de fund-raising que sucediam a aborrecidíssimas dances com homens engravatados e mulheres de saias. Resultado desta estratégia? Bem, poucos anos depois deu-se Stonewall e a Society entrou definitivamente no baú da História....

mva | 20:17|


10.7.04  

Eu não votei nele.

Um amigo e colega contou-me hoje como, na época da greve dos mineiros no Reino Unido (e da repressão Thatcheriana), as pessoas andavam com autocolantes que diziam 'eu não tenho culpa, eu votei Trabalhista'. A propósito disto, sugeria ele algo na mesma linha para a situação actual. Fica o boneco que congeminei, com a pouca qualidade do Paint:

mva | 20:41|
 

Dear non-Portuguese speakers,

Just so that you can understand what the fuss is all about. Two years ago we had an election. We have normal, democratic elections here. The right-to-center PSD party won, but failed to achieve a majority of Parliamentary seats. They formed a coalition with the extreme-right PP party - something they hadn't even presented as a possibility to voters. The administration so far has been based on your standard neo-liberal and anti-social policies (no news there, but bad news nonetheless). About a month ago we had an election for the European Parliament. The coalition suffered the biggest defeat ever in the 30-year old history of Portuguese democracy and the left, obviously, won. A few days later, Prime-Minister Barroso was chosen to be the new President of the European Commission. He did not hesitate (other European PMs did, since they had electoral commitments to their constituencies) and took the job.

Now, the Portuguese Constitution says that the President can do two things in such circumstances: s/he can ask the majority party to nominate a new PM, or call for a new election. On the aftermath of Barroso's escape, PSD elected Santana Lopes, its vice-president, as their new president and potential PM. Thing is: Mr Lopes is Lisbon's mayor and a renowned populist and demagog free-lancer, very much in the style of the likes of Berlusconi in Italy. Polls indicated that the majority of the Portuguese people was for a new election, since Mr Lopes was not part of the package in the election two years ago (he isn't even an MP, and although we have a party system, people tend to vote based on specific PM candidates).

Now for the President: he belongs to the opposition left-to-center Socialist Party and we hoped he would call for a new election. Well, last night he told us he won't. 'For the sake of stability' he asked the PSD to name a new PM, knowing all along that it would be Mr Lopes. Now we will have a government led by this person in a close (actually enhanced) alliance with Paulo Portas, our local LePen avatar.

As a consequence of last night's bad news, Socialist Party leader Mr Ferro Rodrigues resigned. Portuguese President Sampaio simultaneously accomplished the feats of leading the extreme and populist right into government, of not consulting the people through an election, and of destroying his Socialist party (a probable consequence of Mr Rodrigues's resignation will be the election of some centrist drone...).

In our semi-presidential and semi-parliamentary system, the President is the last hope for maintainig democracy and its institutions. His obsession with an abstract notion of stability will lead us into true instability. We're sad, we're mad, and we want to be heard.

mva | 20:00|
 

E se...

Imaginemos por um momento que a decisão de Sampaio teria sido a outra. Teria discursado - e passo a usar termos próximos da sua linguagem - dizendo que, embora seja desejável que as legislaturas se cumpram, as circunstâncias são excepcioniais. Excepcionais porque, por muita honra que possa dar a Portugal ter um nacional presidindo à Comissão Europeia, esse nacional tinha um compromisso com os portugueses, compromisso esse que abandonou, suscitando assim uma crise face às expectativas geradas nas eleições legislativas. Claro que teria que acrescentar que o nosso sistema prevê a eleição de listas partidárias e a escolha de programas e que em princípio o partido mais votado deveria apresentar novo primeiro-ministro. Só que, considerando que as regras do partido maioritário designam o vice-presidente (entretanto tornado presidente) como substituto, a escolha acaba recaíndo sobre alguém que nem como deputado à AR foi eleito. Acrescentaria que o PR não está disposto a promover uma situação em que pudesse funcionar como o vigilante de um governo de iniciativa presidencial, por isso desrespeitar não só os governantes como sobretudo o eleitorado. Diria ainda que a situação gerou uma divisão séria na sociedade portuguesa - não de simples diferença de opiniões, mas de argumentos radicalmente opostos sobre legitimidade - que indicia grande instabilidade nos tempos próximos e em nada contribui para a consolidação da democracia e prestígio das instituições e da classe política. Terminaria dizendo que a excepcionalidade da situação, não significando nenhuma concordância com mecanismos plebiscitários, leva o PR a convocar eleições antecipadas, de modo a repor a legitimidade democrática, contribuindo assim para condições de estabilidade e do normal funcionamento das instituições.

Teria custado muito?

mva | 18:05|
 

Primeiros passos d' A Criatura.

O primeiro acto público d' A Criatura no dia a seguir ao 9 de Julho foi ir ao velório de Maria de Lurdes Pintasilgo. E dizer que ela era uma mulher de causas, não alguém que apenas desejasse o poder.

Considerando que não se conhecem nem causas nem projecto político d' A Criatura, conclui-se que...

(ao que vários convertidos à neo-connerie rapidamente responderão: 'e então, qual é o problema de querer o poder / de querer ir para Bruxelas abandonando compromissos / de querer ultrapassar os outros a 200 à hora / de passar à frente nas filas / de ganhar a corrida de ratos e viver segundo a lei da selva?'...)

mva | 17:55|
 

Sobre desobediência civil.

'Civil disobedience is a form of protest in which protestors deliberately violate a law. Classically, they violate the law they are protesting, such as segregation or draft laws, but sometimes they violate other laws which they find unobjectionable, such as trespass or traffic laws. Most activists who perform civil disobedience are scrupulously non-violent, and willingly accept legal penalties. The purpose of civil disobedience can be to publicize an unjust law or a just cause; to appeal to the conscience of the public; to force negotiation with recalcitrant officials; to "clog the machine" (in Thoreau's phrase) with political prisoners; to get into court where one can challenge the constitutionality of a law; to exculpate oneself, or to put an end to one's personal complicity in the injustice which flows from obedience to unjust law ?or some combination of these. While civil disobedience in a broad sense is as old as the Hebrew midwives' defiance of Pharaoh, most of the moral and legal theory surrounding it, as well as most of the instances in the street, have been inspired by Thoreau, Gandhi, and King' (Peter Suber, aqui).

Veja-se, sobre Thoreau, inspirador da DC, aqui. Sobre desenvolvimentos contemporâneos (por exemplo, Act UP) da DC veja-se aqui, e os links que disponibiliza.

DC em Portugal, hoje, será outra coisa, pois a DC é sempre uma adaptação inventiva e culturalmente específica a casos concretos. No nosso, a ilegitimidade não está no regime ou no sistema, está na conjuntura de um primeiro-ministro e governo ilegítimos face às regras mais profundas do próprio regime e sistema. Fazer DC agora é, por exemplo, estar numa mesa duma qualquer sessão pública onde esteja um representante do governo e sair da mesa declarando que não se reconhece a sua legitimidade. Hoje e aqui, não se trata de desobedecer às leis, trata-se de suspender o laço de confiança entre nós e os seus representantes e executantes, fazendo uma performance dessa desconfiança, enquanto a sua legitimidade na ocupação dos cargos for duvidosa.

Desiludam-se os assustados com (ou fascinados por) anarquismos vários.

mva | 11:53|


9.7.04  

Desobediência Civil!

Graças à fuga irresponsável de Durão Barroso, ao medo de Jorge Sampaio, e à volubilidade provinciana de achar que é prestigiante ter um tuga na "Europa", o governo do meu país é, a partir de agora, um governo ilegítimo. Vivo, a partir de agora, numa democracia manca.

Começa, a partir de agora, a era Berlusconi à portuguesa - o triunfo dos chicos-espertos, dos arrivistas, dos populistas demagogos sem programa político, dos ignorantes que nada sabem fazer na vida mas vivem desejosos de subir, subir, subir. A partir de agora, o meu país vai ser governado pela dupla Santana Lopes e Paulo Portas, pelo pior que a democracia portuguesa deixou medrar, na ausência de educação, na subserviência aos tablóides, revistas cor de rosa e televisões de reality shows e no exacerbar de velhas taras nacionais, do compadrio ao facilitismo, do nepotismo à corrupção.

A partir de agora, o mundo do futebol, o mundo da hipocrisia sexual, o mundo dos homens que batem nas mulheres, o mundo das falcatruas nos negócios e nos impostos - o Portugalete - vai dizer aos jovens destes país que a política é mesmo apenas uma outra forma de grimpar e fuçar e que fugir às responsabilidades em nome da carreira pessoal é mesmo aceitável.

Hoje assisti ao espectáculo triste de ver Ferro Rodrigues demitir-se da liderança do PS. Como se fosse hoje a noite eleitoral (com uma derrota da esquerda, oferecida de bandeja pelo Presidente eleito por ela!) e não há apenas semanas atrás, quando a direita teve a mais estrondosa derrota de sempre.

A partir de hoje vivemos num país sem governo legítimo e com um presidente cuja prometida vigilância sobre ele vale o mesmo que um ramo de salsa, pois rebaixamento maior aos interesses financeiros e ultraconservadores não será já, depois de hoje, possível.

A partir de hoje, assistiremos estarrecidos à campanha eleitoral continuada da direita, ao usufruto duma possível retoma económica que nem sequer ao mérito das suas políticas se deve.

A partir de hoje temos, todos nós, TODA a legitimidade para a desobediência civil. A este governo, às suas leis, às instituições públicas, não devemos, a partir de agora, obediência.

mva | 22:49|
 

Z mode.

Enquanto espero a decizzzão de Sampaio, abstracções das rochas da Zamba - ou zabstracções a partir do lento tempo geológico...





mva | 19:58|


7.7.04  

Contra os canhões, beijar, beijaaaar!

As Panteras Rosa convidam-te a participar numa actividade de reivindicação pública do direito de tod@s a namorar nos jardins públicos da cidade: na próxima 5ª feira, dia 8, pelas 18h, no Parque Eduardo VII, no local e hora onde se deu uma das agressões (a 28 de Junho), organizamos um "BEIJAÇO" de protesto. Estão convidad@s a vir dar um beijo todos os casais - homo ou hetero - ou pessoas individuais que entendam protestar contra este exemplo de homofobia quotidiana. Encontro: na entrada do Parque junto ao Marquês de Pombal do lado da Fontes Pereira de Melo. As Panteras estarão identificadas.

PS: texto copiadinho do cacaoccino... Estou de zamba, preguiçoso, e com ligação MUITO LENTA (ai, ai, ai, PT e CLIX e quejandos!). Mas não quis deixar de ajudar a anunciar o beijaço de quinta-feira. Já agora, beijem-se desejando que o PR convoque eleições, by George!

mva | 23:33|


6.7.04  

Nemesis.



Cada país tem o seu fantasma, a sua nemesis. À espreita através de um nevoeiro laranja, o nosso pesadelo é este homem. Se ele conseguir o que quer, o regime muda. Não através de uma mudança constitucional ou através de uma revolução, mas a partir de dentro. Como em Itália, entraremos numa era berlusconiana. E todo o "senso"-comum sobre a malvadez dos políticos ou o desinteresse da democracia e da política, destilado justamente pelo tipo santanista de gente, se auto-justificará, como numa self-fulfilling prophecy.

De longe, e com net lenta, vou observar o meu país a apodrecer. Ou não, George willing...

mva | 13:54|


5.7.04  

O cavalo de Tróia.

Pronto, agora que já acabou o nEuro, alguns de nós agradeciam que não se esquecessem de duas ou três coisas: 1) que a gravata de Durão Barroso só dá sorte a quem quer subidas fáceis na sua carreira; 2) que a N. S. Fátima é uma santa assim um bocado ultrapassada; e 3) que existe um mundo real cá fora, com um primeiro-ministro em fuga e um homem dos futebóis não-eleito a preparar-se para tomar de assalto o poder. O cavalo de Tróia não o trouxe a equipa grega; o cavalo de Tróia tem estado à vista de todos enquanto pintavam a cara.

mva | 09:45|


4.7.04  


Portinari, Futebol em Brodowski, c.1958

mva | 11:34|
 

Don't tread on me!



Um dos mais belos textos da democracia (se se contextualizar quer as referências a God, quer a Men...):

«IN CONGRESS, July 4, 1776.

The unanimous Declaration of the thirteen united States of America,

When in the Course of human events, it becomes necessary for one people to dissolve the political bands which have connected them with another, and to assume among the powers of the earth, the separate and equal station to which the Laws of Nature and of Nature's God entitle them, a decent respect to the opinions of mankind requires that they should declare the causes which impel them to the separation.

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.--That to secure these rights, Governments are instituted among Men, deriving their just powers from the consent of the governed, --That whenever any Form of Government becomes destructive of these ends, it is the Right of the People to alter or to abolish it, and to institute new Government, laying its foundation on such principles and organizing its powers in such form, as to them shall seem most likely to effect their Safety and Happiness (...)»

mva | 10:55|


3.7.04  

«Luís Filipe Menezes: Santana Lopes não é "nenhum malfeitor"»

OK, já fico mais descansado.

mva | 10:20|


2.7.04  

Nem bom vento nem bom casamento?

«A legalização dos casamentos "gay" que o Governo espanhol quer levar a cabo poderá abrir as portas à adopção de crianças por casais do mesmo sexo, disse ontem o ministro da Justiça, Juan Fernando Lopez Aguilar. O projecto de lei sobre o assunto estará pronto em Setembro, revelou o governante. "Não é intenção do Governo mudar as leis sobre a adopção, mas antes modificar as regras sobre o casamento num aspecto específico", declarou o ministro num fórum de advogados e jornalistas. "[A adopção por casais 'gay'] será uma consequência que pode ser inferida da normalização das uniões homossexuais, mas não é o resultado de qualquer mudança legislativa levada a cabo pelo Governo", respondeu quando questionado sobre se os casais "gay" poderiam adoptar, relata a Reuters. Lopez Aguilar chamou a atenção para o facto de a lei espanhola já permitir que os homossexuais adoptem, uma vez que os critérios são os mesmos para toda a gente: estabilidade emocional e financeira e capacidade de velarem pelos melhores interesses da criança. Mas os casais "gay" não podem adoptar uma criança conjuntamente.» (Público)

mva | 11:12|
 

Até ficam Verdes.

«The appointment of Durao Barroso as next President of the EU Commission which will be submitted for approval to the leaders of the 25 EU Member States Tuesday night in Brussels raised a strong reaction from the Greens/EFA Co-Presidents. Daniel Cohn-Bendit and Monica Frassoni made the following statement: "We are very sceptical about the appointment of Mr. Barroso because his ideas on Europe are too much linked to the Americans. We want to have a Commission President appointed who is strong and able to defend the idea of a social and Green Europe. If the head of states and government propose to appoint Barroso, our Group will take its final stand once he has been given the opportunity to express himself before our Group Members. If after this hearing our scepticism is confirmed, we will look for a majority in the EP against Mr. Barroso". If this choice were to be confirmed, it would point out once more the preference of the Member States for a weak President and a weak EU Commission.»

mva | 11:09|
 

O estilo Força Portugal.

«Santana Lopes Promete Governo "Forte" e com "Novo Estilo"»: a força deve vir do futebol e o estilo deve vir das revistas cor-de-rosa.

PS: Não sei se repararam, mas mesmo que o PR convoque eleições, Portugal já não se safa de um dos seus dois "partidos de governo" ser liderado por esta criatura. Já só falta mesmo um dia termos Valentim Loureiro ou Narciso Miranda como primeiros-ministros. Obrigado, Durão Barroso!

mva | 10:57|