OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


9.7.04  

Desobediência Civil!

Graças à fuga irresponsável de Durão Barroso, ao medo de Jorge Sampaio, e à volubilidade provinciana de achar que é prestigiante ter um tuga na "Europa", o governo do meu país é, a partir de agora, um governo ilegítimo. Vivo, a partir de agora, numa democracia manca.

Começa, a partir de agora, a era Berlusconi à portuguesa - o triunfo dos chicos-espertos, dos arrivistas, dos populistas demagogos sem programa político, dos ignorantes que nada sabem fazer na vida mas vivem desejosos de subir, subir, subir. A partir de agora, o meu país vai ser governado pela dupla Santana Lopes e Paulo Portas, pelo pior que a democracia portuguesa deixou medrar, na ausência de educação, na subserviência aos tablóides, revistas cor de rosa e televisões de reality shows e no exacerbar de velhas taras nacionais, do compadrio ao facilitismo, do nepotismo à corrupção.

A partir de agora, o mundo do futebol, o mundo da hipocrisia sexual, o mundo dos homens que batem nas mulheres, o mundo das falcatruas nos negócios e nos impostos - o Portugalete - vai dizer aos jovens destes país que a política é mesmo apenas uma outra forma de grimpar e fuçar e que fugir às responsabilidades em nome da carreira pessoal é mesmo aceitável.

Hoje assisti ao espectáculo triste de ver Ferro Rodrigues demitir-se da liderança do PS. Como se fosse hoje a noite eleitoral (com uma derrota da esquerda, oferecida de bandeja pelo Presidente eleito por ela!) e não há apenas semanas atrás, quando a direita teve a mais estrondosa derrota de sempre.

A partir de hoje vivemos num país sem governo legítimo e com um presidente cuja prometida vigilância sobre ele vale o mesmo que um ramo de salsa, pois rebaixamento maior aos interesses financeiros e ultraconservadores não será já, depois de hoje, possível.

A partir de hoje, assistiremos estarrecidos à campanha eleitoral continuada da direita, ao usufruto duma possível retoma económica que nem sequer ao mérito das suas políticas se deve.

A partir de hoje temos, todos nós, TODA a legitimidade para a desobediência civil. A este governo, às suas leis, às instituições públicas, não devemos, a partir de agora, obediência.

mva | 22:49|