OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


14.7.04  

Que fazer?

Mesmo que o cálculo político de Vitorino tenha a ver com as presidenciais, a sua recusa em 'tomar conta' do PS pode muito bem ter a ver com outra coisa: o susto com a política nacional e com o funcionamento dos partidos. É perfeitamente compreensível que pessoas com profissões privilegiadamente gratificantes hesitem em atolarem-se na política institucional contemporânea (não creio que as instituições europeias caibam na definição, até porque são mais burocráticas que democráticas).
A posição simétrica a esta hesitação das 'elites intelectuais e profissionais' é a da vox populi mais rasteira: 'ele' são todos chulos, 'eles' querem é poleiro, e por aí fora. Perante a fuga de uns e o desprezo de outros, o campo fica aberto para a mediocridade e/ou para o oportunismo. É assim que acabamos santanados.

Mas que fazer, então, quando se acha que ter conhecimento e exercer influência implicam, também, responsabilidade cívica? Sem dúvida que é legítimo e compreensível apostar na profissão, no exercício da cidadania no dia a dia e no local de trabalho, e na intervenção política indirecta - em artigos, livros, blogs, activismos, movimentos, causas, etc. (sim, também estou a falar de mim e já não estou a falar do Vitorino). Mas chegará? E como se pode aceitar correr o risco de entrar num universo de constante suspensão de princípios e de autonomia (muito para lá da mera negociação que existe em qualquer área da vida desde que não se viva sozinho numa gruta)? Em suma, que fazer?

Pois não sei. E é isso que me dana.

mva | 13:36|