OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


21.7.04  

Os vampiros trapalhões.

Consta que a lenda do conde Drácula tem a ver com o simbolismo dos senhores feudais vistos pelos camponeses como sugadores de 'sangue' (o sangue como metáfora do corpo/esforço de quem trabalha). Imaginem agora que numa terra distante da Transilvânia os vampiros nem sugar sabiam. Pobres elites. Deletes.

Conhecem o argumento da direita neo-liberal sobre a esquerda como um bando de preguiçosos que querem viver à custa do Estado e não sabem fazer nada a não ser sonhar com os amanhãs que cantam? Pois a mim cada vez mais me parece ser uma acusação reversível. Quando olho para a constituição do governo do primeiro-ministro não-eleito Santana Lopes, sinto estar perante uma atabalhoada trapalhada. E as trapalhadas costumam surgir quando as pessoas estão habituadas a viver de privilégios, à conta do Estado e conseguindo (ou dando) empregos mais por compadrio do que por mérito.

De qualquer modo, historicamente são as classes possidentes (possidónias?) que vivem à conta do Estado e do trabalho (o marxzinho da mais-valia pode ser chamado à colação, porque não?), que beneficiam com a fuga fiscal, que obtêm benesses pela simples evocação de nomes e pertenças familiares, e por aí fora.

Quem me dera estar enganado. Quem me dera poder dizer-me com calma que há que dar uma chance (mesmo a um governo de um primeiro-ministro não-eleito). Mas isto é como com alguns alunos em prova oral: quando começa a trapalhada, a trapalhada não tem fim.

PS. Hoje estou assim um bocadinho comunista...

PPS. O P fez rapidamente as contas: em 19 ministros, 3 são mulheres; em 37 secretários de Estado, 4 são mulheres.  

mva | 20:01|