OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


31.7.07  





O metro de Lisboa

"Tenha a bondade de m'auxiliar, p'favore...
Tenha a bondade de m'auxiliar, p'favore...
Tenha a bondade de m'auxiliar, p'favore...
(Obrigado)
Tenha a bondade de m'auxiliar, p'favore..."

mva | 16:48|
 

Limpeza de Verão...

...foi o que aconteceu a este blog. Felizmente no mundo virtual é possível guardar o lastro sem recorrer a arrecadações, gavetas e debaixo-de-camas. Aos poucos os links crescerão de novo.

mva | 16:39|


29.7.07  



De regresso do Brasil, e ainda a cheirar o que se passa (se é que se passa algo) neste país quente e sem crise aérea.


mva | 19:46|


26.7.07  

Só mais um bocadinho

No Sul do Brasil, com temperaturas de Janeiro lisboeta e no meio da "crise aérea". As postagens voltam dentro de dias.

mva | 12:52|


20.7.07  

Maioria absoluta das acções

Para estas coisas já não é preciso consensos e grandes debates, não é? A maioria absoluta basta.

PS: é jovem, inteligente, tem um ar desempoeirado (até mesmo alguns sinais alternativos) e responsabilidades numa universidade pública. Ao referir-se aos cursos diz "produtos", ao referir-se aos alunos e à sociedade diz "mercado". Daqui a pouco anos os dinossauros como eu e meia dúzia mais desaparecerão. Pequenas resistências de linguagem que ainda vamos fazendo acabarão. Daqui a poucos anos poderão ser tranquilas as reuniões das direcções das empresas públicas de ensino. Haverá maioria absoluta, consenso total, hegemonia (esta é melhor não: então já não se saberá o que significa).

mva | 09:50|


15.7.07  

Alface corada de vergonha

1. Patético: na sede de campanha do PS estava uma excursão de Cabeceiras de Basto, composta por pessoas que diziam para as câmaras que nem sequer sabiam porque estavam ali.
2. Pífia: a vitória de Costa.
3. Medo: que Costa se alie a Carmonga (e à Bragaparques? E à, e à e à?).
4. Irreal: Carmonga comporta-se como se tivesse ganho as eleições.
5. Lindo: o desaparecimento do CDS e o quase desaparecimento do PSD.
6. Triste: nem Portas nem Mendes têm pommodori para se demitirem dos cargos. Telmo sim.
7. Assustador (se não fosse parvoíce): os anormais neo-nazis recebem mais votos do que o normal.
8. Deprimente pelo lado mete pena: porque insiste Manuel Monteiro?
9. Deprimente pelo lado já-não-se-pode: Garcia Pereira, o advogado velejador maoísta
10. Morno: Roseta, independente express, elege dois. Por diversíssimas razões, fico a modos que contente.
11. Rubor: Ruben. Se há mito tonto em Portugal é o do "trabalho, honestidade e competência". Então na CML...
12. Justo, quand-même: Sá Fernandes foi re-eleito. Uns seis por cento dos eleitores não se esqueceram do Bragaparques e das razões pelas quais a Câmara caiu.
13. Crítico: é provável que hoje tenha sido o começo do fim do sistema político-partidário português e que qualquer coisa - nem que seja como em Itália - tenha que acontecer. A abstenção ultrapassa os 60% e os aparelhos assobiam para o ar...

PS: Além dos Cabeceirenses de Basto que António Costa trouxe à capital (facto manipulado pela SIC mas mesmo assim delicioso), outro momento da noite foi a SIC ter sistematicamente passado um rodapé dizendo: "Bloco de Esquerda não consegue eleger segundo vereador". Alguma vez o BE falou disso? E que tal dizer "BE consegue re-eleger Sá Fernandes"? Naaa...

mva | 23:47|


12.7.07  

A cidade que temos



Carmonga surge em segundo nas sondagens.

mva | 11:58|
 

Adenda ao post anterior

Quando se lhes pergunta o que fazer para inverter a tendência da quebra demográfica, a resposta banal (infelizmente - e uma vez mais - também por parte de cientistas sociais) tende a ser: "É preciso apoiar as mulheres na conciliação entre trabalho e casa". Não lhes ocorre, evidentemente, dizer "apoiar as mulheres e os homens na conciliação entre trabalho e casa".

mva | 11:55|


11.7.07  

Para casa já e toca a parir

Bem me parecia que vinha aí a propaganda sobre a quebra da natalidade. Completa, com projecções catastróficas e sustos sobre a percentagem de velhos e a quebra da sustentabilidade da segurança social. Este é um terreno perigosíssimo. Normalmente o estado promove a ideia da "nação" como uma família extensa, uma parentela, que "naturalmente" precisa de se reproduzir e continuar até à eternidade. E, tal como na "família" compete tradicionalmente à mulher ficar em casa e ter filhos, assim a salvação da família-nação dependerá do regresso à "tradição". É claro que o governo não se atreve a dizer isto. Dessa encomenda tratará bem a igreja. Mas omite factos. Por exemplo, que a mesma quebra demográfica já aconteceu antes em países desenvolvidos do norte da Europa; que esses países estão hoje em recuperação demográfica; e que não recuperaram através do "regresso ao passado" mas construindo estados sociais sólidos, aumentando o nível de vida, garantindo redes de creches, promovendo a igualdade de género nas famílias heterossexuais, permitindo a adopção por gays e lésbicas, acolhendo imigrantes, etc. Nestas coisas, às vezes nem os cientistas sociais ajudam. Hoje no Público o meu colega demógrafo Leston Bandeira é citado. Diz ele, supostamente, que "tal como com as espécies", extinguir-nos-emos se não nos reproduzirmos. A analogia é no mínimo infeliz: já nem falo no "nos", que é uma fantasia ideológica; mas sim do facto de os portugueses (como qualquer outra nacionalidade) não serem uma espécie nem em analogia. São uma população vivendo sob um estado. Um estado que pode gerir a entrada de mais pessoas, que pode promover a reprodução com boas condições de apoio à parentalidade, que pode promover a reprodução por quem deseja reproduzir-se - o que significa não fazer propaganda conservadora que remeta as mulheres para casa; e não proibir categorias de pessoas de se reproduzirem de forma assistida (como acontece com as lésbicas portuguesas) ou de adoptarem.

Poucas coisas há mais perigosas que a criação de um "medo" sobre a quebra demográfica. Poucos terrenso são tão propícios ao regresso da pior reaccionarice no campo do género e da sexualidade. Pior ainda quando tudo indica que não é através do reforço do estado social e de políticas de igualdade, autonomia e diversidade que se pretende promover a retoma da natalidade. No estado em que se encontra a economia portuguesa, as relações laborais, o estado social, o pensamento dominante sonre imigração ou sobre género e sexualidade, já se está mesmo a ver o que aí vem: mulheres para casa já e toca a parir.

mva | 19:14|


10.7.07  

Lumpen-Carmona

Entro num café perto da sede da candidatura de Carmona (a que usa o logotipos da CML sem que ninguém tenha levantado um dedo contra isso). O balcão está vazio. Ocupo um espaço e peço uma bica. Entram dois homens. Um deles coloca-se ao meu lado. O outro toca-me - sem querer e sem pedir desculpa - com uns paus de bandeiras. Rapidamente cria um espaço entre mim e o primeiro homem. Ostanesivamente, desloco-me para uns metros ao lado. Nada dizem. Observo-os: estão bêbedos. E agora este texto entra numa zona difícil: como descrever pessoas sem recorrer a estereótipos que veiculem preconceitos? Resposta: correndo o risco e fazendo-o. Os homens correspondem a um tipo social que se pode chamar lumpen. Marx descreveu-os brilhanemente em O 18 de Brumário. Correspondem aproximadamente ao que hoje se chamaria os "excluídos". Tal como no caso analisado por Marx, a eles recorrem - como exército e mão de obra - os demagogos e populistas. Nos idos do 25 de Abril, o proto-PNR general Galvão de Melo fazia isso mesmo, com o seu grupo de arruaceiros. Os lumpen - e arrisco a caricatura e, logo, o preconceito - são o tipo social de pessoa que vive em condições miseráveis mas aplaude obras como o túnel do Marquês. Aparentemente Carmona recorre ao seu exército de reserva para carregar bandeirinhas e fazer campanha. Com certeza são contratados. Com certeza há um pequeno favor dado em troca, uma promessa, uma esperança - uns arranjos na casa do bairro social, um empregozito rasca, uns trocos em troco de carregar umas bandeiras. Benesses bem abaixo de um túnel. Posso estar enganado. Eles podem até ser militantes convictos. Mas algo me diz que... (e o estereótipo e o preconceito voltam à tona, bem sei).

Fujo das bandeiras carmonistas e do cheiro a vinho às quatro da tarde. Passo pelos Smarts - vários - pintados com as cores de Carmona (outra vez: com o logotipo da CML ligeiramente - apenas ligeiramente - alterado). Qualquer coisa na cidade me perturbou o dia inteiro. Não percebi o quê. Presto agora mais atenção e finalmente percebo: lixo. Lixo por todo o lado. Lixo ao pés de cartazes com a cara beatífica de Carmona, grande líder populista populista dos velhos e excluídos e lumpens da Lisboa miserável. Grande responsável pela miséria em que nos encontramos, cidadãos sem cidade. Que haja pelo menos uma palavra de ordem para dia 15: varrer Carmona.

mva | 17:54|
 

O fenómeno

Fátima Campos Ferreira. Será mais uma candidata à CML? Será uma professora primária mandona assolando as piores memórias dos candidatos? Será a voz do povo trazida directamente da fila de espera pelo autocarro? Não. É a principal figura do serviço público de TV no início do século XXI.

PS - quanto ao (resto do) debate, só mesmo citando Conrad: "The horror, the horror!"

mva | 08:29|


8.7.07  

Adenda

Apesar do tom no mínimo irritado (não me apetece irritar-me...) de muitos comentários ao post anterior, há que reconhecer um erro. De facto, o programa a 4 anos - para que o actual programa de Sá Fernandes, a 2 anos, remete - aborda questões LGBT. Já quanto ao aeroporto, insisto: está a ser tratado como uma questão de pequena política ou com uma visão da economia que omite a qualidade de vida, e nenhum candidato se lembrou de falar em nome dos milhares e milhares de pessoas que aturam aviões em aterragem e descolagem de 2 em 2 minutos. Ruído, poluição e risco são, sim, problemas gravíssimos.

PS - Como sabem, não apoio nenhum candidato. E já manifestei sérias reservas, e por razões diferentes em cada caso, em relação a algumas candidaturas do arco político com que me identifico (Costa, Roseta, Sá Fernandes). Mas irei votar, mesmo com reservas, mesmo sem entusiasmo.

mva | 10:26|


7.7.07  

Duas questões "fracturantes"

Apesar do post anterior, não se pode ficar de braços cruzados. Ainda não sei se voto em branco ou nalgum(a) candidat@. Bem sei que a questão do saneamento financeiro é central. Mas percebo muito pouco do assunto. Posto isto, duas questões têm uma importância simbólica para mim, pelo que indiciam de visão do mundo/da cidade e de postura perante os vários poderes instituídos. Uma delas, é claro, é a presença ou não de questões LGBT (10% da população nacional e provavelmente mais em Lisboa). Na página da Associação ILGA-Portugal, pode encontrar-se uma lista das referências a questões LGBT nos programas das candidaturas à CML. Isto é: uma lista da ausência de referências... Uma excepção: Roseta. A outra questão é o aeroporto. O único candidato (infelizmente por "más" razões, isto é, por obediência ao governo de que emana) a favor do fecho da Portela - medida fulcral para qualquer ecologista que se preze - é António Costa.

mva | 10:21|
 

Eleições viciadas?

E se antes de lermos os programas eleitorais e nos debatermos interiormente quanto ao sentido do nosso voto lêssemos Eleições Viciadas?, de João Ramos de Almeida, sobre a suspeita de a vitória de Santana Lopes há anos ter resultado de manipulações do sistema? As classes política e jornalística deveriam estar ocupadas com este assunto, mais do que com a "campanha alegre".

PS - Não se trata de mais uma "escandaleira" ou "truque comercial". Por acaso sou amigo do JRA desde o liceu; ele é uma pessoa tão séria que até perturba (just kidding, João...)

mva | 09:58|


6.7.07  

De Uma História de Amor e Trevas, de Amos Oz,

livro que me ocupa, encantado, nas últimas semanas, uma passagem mais "séria":

«Os conflitos mais terríveis na vida dos indivíduos e das nações são geralmente os que se produzem entre os perseguidos. É uma ideia romântica pensar que os perseguidos e os oprimidos se unem por solidariedade, e cerram fileiras nas barricadas para lutar juntos contra o tirano cruel. Com efeito, dois filhos vítimas da violência paterna nem sempre são solidários e o seu destino comum não os une necessariamente. Muitas vezes não só não se consideram companheiros de infortúnio, como vêem um no outro a imagem do opressor comum.

Deve ser o que se passa entre Árabes e Judeus há cerca de um século.

A Europa desprezou, humilhou e oprimiu os Árabes através do imperialismo, do colonialismo, da exploração e da opressão - e foi essa mesma Europa que perseguiu e oprimiu igualmente os Judeus, acabando por permitir e até ajudar os Alemães a desenraiá-los dos quatro cantos do continente e a exterminá-los quase todos. Ora os Árabes não nos vêem como um punhado de sobreviventes meio histéricos, mas como agentes do colonialismo europeu, tecnicamente avançado e explorador, que regressarm insidiosamente ao Médio Oriente - desta vez disfarçados de sionistas - a fim de mais uma vez os explorar, expulsar e espoliar. E nós, pelo nosso lado, não vemos neles vítimas como nós, nossos irmãos de infortúnio, mas cossacos fomentadores de pogromes, anti-semitas sedentos de sangue, nazis disfarçados: como se os nossos carrascos europeus tivessem ressurgido aqui em Israel, de bigode e keffieh, os nossos assassinos de sempre, obcecados pela ideia de nos degolar por simples prazer.» (p. 419)

PS: Ainda bem que Oz não recuou até à Península Ibérica de há mais séculos atrás, onde muçulmanos (nem todos árabes) e judeus foram tratados com "igualdade"... E ainda o são, quer no esquecimento, quer no imaginário negativo

mva | 16:20|
 

Blogabaixo

Por causa de umas anormalidades sobre sexo anal, Patrícia Lança tornou-se na nova estrela do blogabaixo - o bota-abaixo da blogosfera. Completamente de acordo com as críticas à sua inenarrável concepção do sexo (anal ou outro -não é tudo a mesma coisa?). Mas não posso deixar de me congratular com o facto de uma mulher de 82 anos ser tão activa a escrever, para mais dominando completamente as "novas" tecnologias. A sua biografia, mesmo apenas em traços largos, é romanesca - Anglo-Portuguesa, Segunda Guerra Mundial, Checoslováquia, Argélia... O que também prova como até o cosmopolitismo tem na homofobia a sua mais intransponível barreira.

mva | 11:30|
 

Arranja-me um emprego, pode ser no teu partido, com certeza

Alguém devia fazer uma sitcom em que as personagens fossem todas as figuras de 2ª e 3ª linha do PS e do PSD que pululam pelas sevretarias de estado, centros de saúde, câmaras e restantes cafundós do Estado. São muito divertidas (às segundas, quartas e setas, que às terças e quintas são patéticas - e supõe-se que ao fim de semana estão em casa a falar mal do governo). A sério. Conheço umas tantas, sei do que falo.

mva | 08:47|
 

Pérola eleitoral II

Demorei vinte horas para perceber o cartaz de Negrão que diz "vote na sigla que vai pôr as outras na ordem" - ou algo assim. Lá me ocorreu que devia ser uma tentativa de auto-humor por causa da confusão com a EPUL, a EPAL e o IPPAR. Se calhar, tal como eu, já toda a gente tinha esquecido o episódio. Obrigado pela lembrança, Negrão. No próximo cartaz relembre-nos, por favor, o maravilhoso absurdo da sua candidatura. Por exemplo: "Vote na sigla que já apoiou Carmona".

mva | 08:40|
 

Pérola eleitoral I

O professor do colégio da Opus Dei que dirige o PNR diz que defende a família. Família para aqui, família para ali. (Será que inclui também a minha família, composta por mim e pelo meu companheiro?). Um minuto depois, ao ligar imigração e insegurança (deve ser professor de non sequitur, coitadas das crianças), diz que se deve acabar com a figura "absurda" do reagrupamento familiar.

mva | 08:35|


4.7.07  

A zanga dos feitores

Dizia uma colega minha outro dia, comentando o governo: "Estes tipos parece que estão zangados com as pessoas". Às vezes estas avaliações "anímicas" são as mais certeiras. De facto, Sócrates e muitos dos seus ministros transmitem esta sensação. Nunca os vemos fazendo discursos positivos, que entusiasmem, que mobilizem as pessoas para as mudanças que dizem ser tão necessárias. O que vemos é outra coisa: uma espécie de arrogância. De onde vem ela? Em parte da cultura paternalista e hierárquica portuguesa, claro. Em parte do "estilo centrão", essa espécie de alheamento da Política partilhado por PS e PSD pelo simples facto de se terem estabelecido como dois grandes centros de emprego e distribuição de benesses. Mas o PS tem uma característica específica. O seu papel tem sido - e esta é uma das poucas coisas em que o PC tem razão - o de feitor do neo-liberalismo. Um feitor é um administrador no terreno, o intermediador entre o patrão e os trabalhadores. A atitude dos governantes PS pode ser resumida assim: "Nós estamos a fazer o que é preciso. Mas somos de esquerda. Porque é que vocês, gente de esquerda, não percebem que temos razão?!" É aí que começa a zanga com as pessoas. E como não há maneira remotamente progressista de explicar o que fazem, adoptam uma linguagem absolutamente vazia de conteúdo: "modernizar", por exemplo, é uma das expressões favoritas. Sem dizer "como" ou "para quê" - esses preciosos pormenores. Sobretudo quando (como no caso das universidades) se trata de diminuir o governo democrático (da última vez que li um manual de História, ainda se associava modernidade a democracia, mas se calhar mudou...). A zanga, no fundo, é uma zanga consigo mesmos. Com os seus passados, com a retórica de esquerda que se sentem obrigados a usar, com as críticas que eles mesmos fizeram, no passado, a outros governos. Esta zanga com as pessoas estende-se, depois, a todos os domínios onde o polvo do governo e do partido chega. O feitor torna-se mais papista que o papa - ou mais patronal que o patrão - aplicando com excesso de zelo neo-cristão as cartilhas neo-liberais (que ele traduz como "modernas"). Oiça-se Sócrates a falar: o seu discurso é do mais absoluto vazio. Oiçam-se os feitores nas instituições públicas: o seu discurso não passa do "é assim, tem que ser assim". O PS rendeu-se a uma coisa que resolveu definir como sendo "a realidade" e desistiu de fazer qualquer análise crítica sobre quem a define, em que termos e com que objectivos.

[Vêm agora dois momentos importantes para o governo: a presidência da UE e as eleições para a CML. Quanto à primeira, em três dias já houve dois episódios significativos: a recusa em falar num referendo ao tratado que replica a Constituição Europeia há pouco chumbada; e a insistência na presença de Mugabe na cimeira UE-África. Quanto à segunda, a inexistência de uma ligação entre o PS e a "sociedade civil" leva à designação de um ministro para candidato a Presidente da Câmara. Estamos em plena aridez política, em administração burocrática da política, em rendição ao real tal qual ele é (ou parece ser) - aquilo que normalmente designam por "pragmatismo". Este é curiosamente o mesmo pragmatismo que leva o grosso da elite cultural portuguesa a achar que isso do Mugabe não tem importância nenhuma, ou que a leva a apoiar, na hora, a candidatura municipal que mais subsídios pode vir a dar. Pela parte que me toca, vou gritar contra Mugabe; e não voto no presidente-de-câmara-designado nem que me paguem.... ]

mva | 09:20|


3.7.07  

Alter nativos

Ainda bem que também havia este bloco no imenso carnaval (para o bem e para o mal) do Europride de Madrid. Tenho, como muit@s, uma relação complicada com o que se poderia chamar uma "normatividade gay" feita de certas lógicas de género, de consumo, de classe e de corporalidades. Tenho, como muit@s, consciência do carácter contra-cultural das lutas anti-homofóbicas e anti-patriarcais. Mas também sei que as coisas são mais complicadas do que o branco e preto: o mercado pode ser, hoje, um "lugar" de construções identitárias e de transformações, como os movimentos contra-culturais podem ser "puritanos". E vice-versa.

Certo é, no entanto, que as conquistas da igualdade de direitos são recentes. E fizeram-se no quadro da absorção das nossas reivindicações pela democracia liberal e pela sociedade de consumo. Isso não aconteceu sem o radicalismo anterior - quer o da gay liberation de há 30 anos, quer o do Act Up da crise da sida. Em suma: a tensão entre o trio eléctrico patrocinado por uma grande empresa e repleto de musculocas, por um lado, e os alternativos, por outro, é uma boa e necessária tensão para os tempos próximos. Sobretudo nos países onde já se conquistou muito.

Como se diz no post, a Associação ILGA-Portugal apostou bem: inseriu-se no cortejo principal, e não abdicou de transmitir uma mensagem política.

mva | 08:57|


1.7.07  



Europride de Madrid, ontem. A delegação portuguesa fez sucesso com o "Espanha 3, Portugal 0": aplausos da multidão, incentivos, entrevistas, fotos, cobertura televisiva de vários canais espanhóis, e recepção privilegiada na chegada ao palco por parte dos organizadores. Tudo isto durane 6 horas de um desfile que mobilizou um milhão e meio de pessoas e transformou Madrid inteira num imenso arraial. Media portugueses? Népia, claro. Nem sequer uns reaccionarotes que nos acusassem de traição à pátria...

PS: Yours truly está escondido por un paraguas arco-íris. Mas não d epropósito, claro.

mva | 21:23|