OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


6.7.07  

De Uma História de Amor e Trevas, de Amos Oz,

livro que me ocupa, encantado, nas últimas semanas, uma passagem mais "séria":

«Os conflitos mais terríveis na vida dos indivíduos e das nações são geralmente os que se produzem entre os perseguidos. É uma ideia romântica pensar que os perseguidos e os oprimidos se unem por solidariedade, e cerram fileiras nas barricadas para lutar juntos contra o tirano cruel. Com efeito, dois filhos vítimas da violência paterna nem sempre são solidários e o seu destino comum não os une necessariamente. Muitas vezes não só não se consideram companheiros de infortúnio, como vêem um no outro a imagem do opressor comum.

Deve ser o que se passa entre Árabes e Judeus há cerca de um século.

A Europa desprezou, humilhou e oprimiu os Árabes através do imperialismo, do colonialismo, da exploração e da opressão - e foi essa mesma Europa que perseguiu e oprimiu igualmente os Judeus, acabando por permitir e até ajudar os Alemães a desenraiá-los dos quatro cantos do continente e a exterminá-los quase todos. Ora os Árabes não nos vêem como um punhado de sobreviventes meio histéricos, mas como agentes do colonialismo europeu, tecnicamente avançado e explorador, que regressarm insidiosamente ao Médio Oriente - desta vez disfarçados de sionistas - a fim de mais uma vez os explorar, expulsar e espoliar. E nós, pelo nosso lado, não vemos neles vítimas como nós, nossos irmãos de infortúnio, mas cossacos fomentadores de pogromes, anti-semitas sedentos de sangue, nazis disfarçados: como se os nossos carrascos europeus tivessem ressurgido aqui em Israel, de bigode e keffieh, os nossos assassinos de sempre, obcecados pela ideia de nos degolar por simples prazer.» (p. 419)

PS: Ainda bem que Oz não recuou até à Península Ibérica de há mais séculos atrás, onde muçulmanos (nem todos árabes) e judeus foram tratados com "igualdade"... E ainda o são, quer no esquecimento, quer no imaginário negativo

mva | 16:20|