OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


25.9.06  



Lágrimas e sorrisos

Depois do congresso em Bristol, uma ida rápida no fim-de-.semana a Barcelona ao concerto do George Michael (sim, não consigo evitar que o meu blog tenha também um tonzinho intimista...), hoje foi o regresso ao Processo de Nápoles; leio tão poucas notícias que só me ficaram ecos de algumas coisas curiosas...:

1. «A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) pediu a demissão do ministro da Saúde, acusando-o de "falta de senso" por defender a despenalização do aborto e querer incentivar os hospitais a aumentar a sua prática.» (Público online). Ou seja: muita gente na APFN deve confundir o Governo da República Portuguesa com a administração dum seminário ou, sei lá, duma Oficina de S. José...

2. Afinal o serviço público de TV não serve apenas para promover o Sol. Serve também para promover produtos ditos literários, como uma coisa que vai sair sobre o suposto assassinato dum papa. O autor do produto (o produtor...) diz que o seu livro se baseia em documentos verdadeiros sobre João Paulo I, para logo a seguir dizer que "se fala" de Jennifer Conelly e Clive Owen para protagonistas na adaptação cinematográfica. De resto, a RTP propagandeia alegremente o livro como tendo edição garantida em 22 países. Eu agora era jornalista e ia ali a umas empresas perguntar se queriam que fizesse uma notícia... Ou eu agora sabia escrever em português e ia ali a uma editora saber se queriam um bom negócio na sequência do Dan Brown.

3. Parece que um quarto dos portugueses não se importavam que Portugal fosse parte do Estado Espanhol. A mim não me choca nada, desde um ponto de vista nacionalista - um ponto que não tenho. O que me choca é que haja tanta gente que pensa que para ter uma sociedade (mais) decente é preciso imaginar a pertença a outro estado, em vez de mudar o estado das coisas no sítio onde acontece viver-se.

4. Há uma série de homens de fato que se reunem para congeminar um país mais parecido com o que vêem quando vão à Wall Street ou à City de Londres por dois dias. Findos os quais regressam ao Portugalete com subsídios do estado, empregadas e esposas que cozinham o jantar e tratam dos putos, serviços e repartições onde os tratam por "senhor doutor", e almoços e telefonemas onde se negoceia com os amigos enquanto se diz que o país é muito corrupto.

5. O inenarrável Un Año Sin Amor ganhou o Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. É bem provável que para o ano eu ganhe o Prémio Nobel da Física.

mva | 20:09|