OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


5.10.07  

Mudança de casa

Este blog muda hoje de casa, para blog.miguelvaledealmeida.net. Junto com a mudança, estreia também um website, ainda em retoques finais e com muito trabalho pela frente quanto aos conteúdos. A casa que hoje acaba continuará no ar, albergando os quase 2000 posts publicados desde 13 de Maio de 2003. Não esqueçam: tomem nota da nova morada.

mva | 21:45|


3.10.07  

"É voltar à hora d'almoço"...

diz a moça da farmácia, perante a falta de um produto. Não só a pessoa é obviamente suposta cirandar ou marinar pelas proximidades todo o santo dia, como a "hora d'almoço" é uma espécie de longo período de pousio, um tempo sem tempo onde tudo é possível. Também certa imprensa inglesa com mentalidade colonial acha esta coisa do almoço muito estranha. Alguns jornais até juntaram a imagem de PJs em "longos almoços" - para mais "regados a vinho" - à da alegada violência policial sobre a acusada no "caso Joana". As duas imagens como que se equivalem, ambas dando conta de costumes bárbaros, a meio caminho da mutilação genital. Eu até nem gosto de longos almoços regados a vinho em dias de semana e odeio particularmente o "almoço de trabalho" ou o "vamos almoçar um dia destes" como desculpa para tratar de coisas sérias (gosto, e muito, de encontrar amigos para almoçar, desde que prometam que é só para a patela). Acontece, porém, que a imprensa inglesa - e eu - deveria fazer um pequenito esforço de compreensão cultural. Se o fizesse(mos) perceberiam(os) que por estas bandas é mesmo assim para muita gente - não só nos longos almoços se resolvem coisas que outros resolvem em reuniões e via mail, como as decisões ficam legitimadas pelo laço relacional que se cria, como, ainda, o vinho não é visto (nem sequer sentido) como apenas uma via mais para a bebedeira. Prometo que vou fazer um esforço para perceber o que a moça da farmácia quer dizer com "é voltar à hora d'almoço". Deve querer dizer que ela não quer afirmar "brutalmente" que não pode resolver o problema que lhe é colocado; deve querer dizer que devemos ter esperança na resolução dos problemas com a passagem do tempo; ou simplesmente não quer dizer nada.

mva | 10:47|
 

Já tínhamos saudades...

...dos anos 30. Pode até ser tudo muito certinho cientificamente (I'm in a good mood today) mas gostava de saber uma coisa: como escolhem as pessoas?

mva | 10:40|


2.10.07  

Uma causa flatulante

Vão à janela neste preciso momento (9h30): cheira bem, cheira a Lisboa. E isto não é uma raridade, antes acontece regularmente. Estará o país com problemas de flatulência?

mva | 09:35|


29.9.07  

Quando julgávamos que não podíamos descer mais baixo...

...acontece isto: «Os dois jovens, de 16 e 24 anos, suspeitos de terem profanado várias campas do Cemitério Judaico de Lisboa com cruzes suásticas saíram quarta-feira do tribunal em liberdade, com a obrigatoriedade de apresentação periódica às autoridades, informou a PSP.» (Público.pt)

E logo a seguir isto: «Luís Filipe Menezes chegou hoje à liderança do PSD» (Público.pt)

mva | 11:58|


27.9.07  

O/El Público...

...que vou passar a ler todos os dias é este.

Ainda por cima disponibiliza de graça o pdf da edição em papel.

E ao contrário dos jornais portugueses, este assume ao que vem. Bravo!

mva | 17:11|
 

Miopia

Através do Womenage a trois cheguei ao Relatório Final do Grupo de Trabalho sobre Educação Sexual. Correndo o risco de ser injusto - pois não se trata aqui de analisar o dito relatório - a sensação com que se fica é de que o discurso implícito é algo como isto: o mundo tal como existe, normal e regular, é um mundo de rapazes e raparigas heterossexuais, pintalgado por alguns que não o são e em relação aos quais deve ser promovida uma coisa chamada ora "diversidade" ora "tolerância".

Apesar de bem intencionado, este discurso não serve. Não é substancialmente diferente - a não ser na intenção caritativa da "tolerância" e na fuga eufemística da "diversidade" - do discurso que tem prevalecido nas últimas décadas e que poucos resultados teve na promoção do bem-estar e autonomia das pessoas. Porque não dizer claramente: "O mundo tal como existe é feito de muitas variações da identidade, da orientação e do comportamento sexuais. Todas são legítimas. Ilegítima é a discriminação, activa ou pelo silenciamento. E a regra de ouro das relações sexuais e afectivas é o mútuo consentimento informado entre pessoas em idade legal"?

Por causa do "consenso"? Por causa da pressão do lobby católico, versão fundamentalista? Mas então o Estado não opta? E os governos não optam? Há eleições para quê? Ou a razão será outra - uma interiorizada e inconsciente miopia típica de quem, mesmo sendo "técnico", mesmo sendo "laico", mesmo sendo de "esquerda", se situa, afinal de contas, na heteronormatividade?

mva | 13:48|
 

Nunca pensei vir a concordar com Santana Lopes:

«O social-democrata Pedro Santana Lopes abandonou ontem uma entrevista que estava a dar à SIC Notícias sobre as eleições do PSD depois da sua intervenção ter sido interrompida por um directo sobre a chegada de José Mourinho a Lisboa. "Eu vim aqui com sacrifício pessoal, e sou interrompido por um treinador de futebol… Acho que o país está doido", afirmou Santana Lopes, antes de sair dos estúdios.» (Público online)

mva | 08:58|


26.9.07  

Praxe

As faculdades que permitem as praxes, mesmo que apenas nos pátios ou espaços circundantes (como, infelizmente, acontece com a minha) estão a subscrever e a promover os piores valores. É assim como se nos seus cursos de comunicação social ensinassem o jornalismo com base no 24 Horas, ou nos de antropologia promovessem o racismo "científico", ou nos de física dissessem que Galileu era um herege. Pela minha parte lá vou dando aulas, gritando sobre o barulho que entra pelas janelas. Depois, nos corredores, e sobretudo nos pátios, é uma viagem pelo comboio-fantasma, uma aula viva de etologia animal, um parque temático medieval: orelhas de burro, bonecas insufláveis, machismo, homofobia, humilhações, hierarquias, celebração do privilégio. Ao menos que assumissem o lado animal da coisa: os machos (e as fêmeas adeptas do machismo) que montassem os júniores, seguindo-se um chichizinho para marcar o território. Iam ver que aliviava.

mva | 11:18|
 

A besta...

... que preside ao Irão disse, na Universidade de Columbia, que no Irão "não há homossexuais". Só pode ser porque afinal tem andado a matar mais pessoas do que pensávamos.

mva | 11:11|


24.9.07  


Notícias do "Estado de direito democrático"

1 - A Lusoponte tem o exclusivo das travessias do Tejo a sul de Vila Franca.
2 - A legislação que definiu isso foi aprovada quando Ferreira do Amaral era ministro.
3 - Graças a uma intervenção do lobby empresarial, a hipótese de construir o aeroporto em Alcochete tornou-se real.
4 - Já estava a ser planeada uma terceira ponte, ferroviária; a hipótese do aeroporto fará com que seja também rodoviária, algo que levanta a questão do exclusivo.
5 - Ferreira do Amaral já não é ministro: preside à Lusoponte.

mva | 21:42|
 

Notas de trânsito

1. Como diz Mma Precious Ramotswe, a detective do Botswana*, "you can tell a country by its traffic". Por estes dias tive que pegar no carro pela primeira vez em meses. Big mistake. Não ajuda muito na relação afectiva com a Nação.

2. O que diz então o trânsito português sobre Portugal? Bem, a mesma pessoa que demora horas a arrancar no sinal verde, acelera loucamente para passar no sinal quase vermelho logo a seguir.

3. Anúncio na estrada de Sines para Lisboa: "Vende-se triciclo de 3 rodas"

4. Ainda nessa estrada: há cinco anos que definha um "outdoor" do PSD local que, no início, se congratulava com a conclusão ou reparação do IP8. Dizia "Cumprimos!" e mais não sei quê. O cruel tempo tratou dele - que mais ninguém o fez... - e agora só diz: "rimos!"

5. Pichagem de beira de estrada: "Portugal a concelho!"

*da série No 1 Ladies' Detective Agency. Conheci Mma Ramotswe pela primeira vez ao ler The Kalahari Typing School for Men. O autor, Alexander McCall Smith também tem um livro a gozar com a academia. Intitula-se curiosamente Portuguese Irregular Verbs.

mva | 10:07|