13.9.07
Pensar, dizer e fazer
Não me é difícil imaginar que Nogueira Pinto possa estar escandalizada com as acusações de atitude discriminatória por ter sugerido o fim das "lojas de chineses" na Baixa e a criação de uma Chinatown. É perfeitamente comum termos a certeza de não termos discriminado e no entanto sermos acusados disso por algo que dissemos. O problema é que nestas coisas da discriminação pouco importa a "intenção" ou "o que sentimos verdadeiramente". Importa o que dizemos e fazemos (e dizer é, de certo modo, fazer). É por isso mesmo que a correcção política é, ao contrário do que se diz por aí, importante. É por isso também que ela está de certo modo mais ligada a um modo de agir em público "protestante" do que "católico" - este mais habituado a lidar confortavelmente com a diferença entre o que se sente "dentro" e o que se faz "fora".
Mas as coisas são mesmo assim: o que se diz e faz é que conta, em matéria de discriminação. Também é por isso que - passando para uma área análoga à do racismo e xenofobia - muitos de nós não queremos converter ninguém à empatia ou simpatia com a homossexualidade. No imediato, pouco importa que haja mentes homofóbicas. Importa, sim, que haja vergonha social em proferir afirmações homofóbicas ou em discriminar directamente. E que haja a aceitação de medidas antidiscriminatórias, desde logo nas leis, com base nos princípios gerais da igualdade e dos direitos humanos. Fechando o círculo: uma das medidas antidiscriminatórias seria a promoção de educação sexual não heterossexista e a visibilização das vidas e experiências LGBT - uma dignificação simbólica que teria como consequência futura a famosa mudança de mentalidades. Esta é um processo lento e por isso nunca deve ser pré-condição para as mudanças legislativas e políticas.
mva |
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