15.9.07
Eu até queeria...
Queer - no sentido mais "popular" e não no académico - é sem dúvida simpático. Quebrar fronteiras identitárias, ir mudando e "performando" sinais identitários, até mesmo transpor e transgredir a própria ideia de identidade, é sem dúvida atraente. Mas.
Por um lado, o nosso tempo de vida e a nossa individualidade; por outro, os contextos históricos em que vivemos. Quanto ao primeiro: a nossa identidade constroi-se em grande medida justamente pela definição do que não somos. Define-se, goste-se ou não, pelo estabelecimento de fronteiras simbólicas e práticas. Podemos (devemos?) experimentar, forçar a barra, fazer por abrir horizontes. Mas "no fim do dia", e no plano da sexualidade, o que queremos mesmo fazer? O que sentimos mesmo? E no nosso limitado tempo de vida? A identidade é uma prisão? É. Mas...
Quanto ao segundo: em cada período e contexto há uma tipologia de identidades; essa tipologia estabelece também uma hierarquia; há identidades normativas e privilegiadas e outras perseguidas e estigmatizadas. Ao contrário do que alguns pensam, a transcendência das identidades não cria grandes engulhos ao "sistema". É até bem possível que se coadune com ele e com o seu guião de indivíduos consumidores, instáveis e sem biografia.
Em suma: eu gostaria muito de ser (estar) queer, mas estou "condenado" a ser gay. A minha identidade sexual está limitada pelos meus desejos e erotismo e por identificações externas (é contra estas, reconheço, que o gesto queer pode ser mais eficaz); e a minha afirmação de cidadania é estimulada pela vontade e necessidade de combater a opressão.
As coisas complicam-se um bocadinho se introduzirmos a variável "Portugal" neste cenário. Receio que aqui "queer" possa rapidamente ser canibalizado e entendido como algo de semelhante a "metrosexual" - e um óptimo alibi para a continuação de muitos armários. Nada melhor para que tal aconteça do que a oclusão das categorias "gay" e "lésbica".
mva |
21:18|
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