OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


12.8.07  

Acertar ao lado

A forma como os media em geral trataram do caso BES é um tanto surpreendente. O caso foi pegado pelo "ângulo" da "queixa" à Comissão Europeia, em si mesmo um mal-entendido, revelador de uma mentalidade do tipo "fazer queixa ao padrasto para ele vir dar um raspanete". Ora, aquilo que é relevante - e que o comunicado da Associação ILGA-Portugal diz claramente - é que ele demonstra como nem sequer a Lei das Uniões de Facto está a ser cumprida; e como a igualdade no acesso ao casamento civil é fundamental até para isso. A dúvida do BES quanto às "condições análogas às dos cônjuges" e o facto de o tribunal ter dado razão ao casal por o BES já ter antes concedido um empréstimo a um casal gay e não por não cumprir a lei das Uniões de Facto, mostram como é importante que a República decida de uma vez por todas se quer ou não a plena igualdade, desde logo (ou sobretudo...) simbólica. Está visto que só havendo igualdade no acesso ao casamento é que haverá igualdade também no usufruto das uniões de facto. Caso contrário, muitos bancos, tribunais e, aparentemente, jornais, continuarão a não perceber o que está verdadeiramente em causa e continuarão a reproduzir a ideia de que há qualquer coisa de bizarro e necessitando de explicação no facto de um casal de homens ou de mulheres poder querer ser tratado como casal.

mva | 12:10|