OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


30.4.07  

Estónia

Mais do que a violência ou as "razões" possíveis de ambas as partes, o que choca na Estónia é que haja uma percentagem tão grande de pessoas sem cidadania. Pode-se dizer que o mesmo acontece com milhões de imigrantes noutros países europeus. Certo. Mas - e se aceitássemos isso como razão válida... - acontece que os russos da Estónia nem imigrantes são.

Turquia

Um milhão de pessoas na rua contra a confusão entre estado e igreja. Pode até ser um movimento que tem um estranho fundo nacionalista e o apoio de uma suspeita casta militar. Mas é o princípio que está em causa. Algo que não acontece em muitas opiniões contra a entrada da Turquia na UE, que ingenuamente repetem os argumentos sobre o peso demográfico turco e sobre o perigo do radicalismo islâmico, sem perceberem que estão a validar os fantasmas orientalistas e xenófobos do "choque de civilizações" a la Huntington.

Ainda a propósito de islão:

ler a Faranaz Keshavjee no Público de hoje (inlinkável). Finalmente temos uma voz muçulmana portuguesa - pesoal, única, dialogante.

Polónia

O que se passa na Polónia merecia uma intervenção como a que houve na Áustria de Haider. Mas não: o país é demasiado grande e demasiado fronteiriço da Rússia. A UE caminha para o desastre se não intervier - nem que seja moralmente. Earth to Barroso?! Hello?

Ainda a UE

Num artigo intitulado "Happy Birthday" na New York Review of Books, William Pfaff escreve o que só um americano pode escrever sobre a UE: que foi esta, e não a NATO e os EUA, que conseguiram a paz na Europa, que conseguiram a derrota da URSS, que conseguiram inventar uma nova forma de construir União. Alguma ingenuidade? Muita, até. Mas quando um americano crítico da política externa e doméstica de sucessivos governos elogia o "facto europeu", eu fico..., bem, orgulhoso, prontos.

No entanto...

Não é só a situação polaca, a estónia, ou a atitude perante a Turquia, que irritam nas actuais hesitações e fraquezas europeias. Portugal, no exercício da presidência, vai organizar uma cimeira UE-África. Meio mundo, a começar pela política oficial europeia até hoje, está contra a vinda de Mugabe. Sócrates faz-se de ingénuo e diz que não compreende por que Mugabe não ha-de ser convidado. Ele é apenas um sanguinário racista e homófobo. Coisas de somenos.

Chávez e Castro

Os jornais noticiam que Chávez, o pré-ditador venezuelano, garante que Fidel Castro está de volta ao exercício do poder. Agora temos presidentes que falam em nome de presidentes de outros países, uma espécie de jornalistas ou porta-vozes. Inventaram qualquer coisa de novo ali para os lados das Caraíbas. Amanhã Cavaco anuncia o nascimento de mais uma infanta de Espanha...

mva | 11:20|