OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


8.3.07  

O modo português de estar no mundo

Numa só edição de um jornal, todo um programa. Um título do Público de hoje diz-nos que em Timor Leste "um juiz português dá lição de democracia a ex-ministro Lobato". É sempre bom saber que um bocadinho do velho espírito colonial continua vivo (e que afinal até há juizes portugueses que dão lições de democracia). Também ficámos a saber por estes dias que "António Costa não reconhece legitimidade do relatório dos EUA sobre direitos humanos" em Portugal. É que é sempre bom saber que um bocadinho do velho espírito anti-imperialista ainda sobrevive no nosso governo, que não se verga por dá cá aquela palha (violência policial, estado das cadeias e amendoins do género) ao Departamento de Estado dos EUA. A chatice, claro, é outro título referir que é um tribunal espanhol quem "pede a Portugal dados sobre voos da CIA no espaço aéreo ibérico". Esperemos para amanhã um título revelador da sobrevivência de algum anti-espanholismo no nosso governo. Uma "lição de democracia", sei lá: Espanha saiu do Iraque na sequência de eleições, zangada com a subserviência de Aznar a Bush, e tomando uma posição política internacional; Portugal finalmente aje, já que, segundo outro título, "desactiva embaixada portuguesa em Bagdad" por falta de segurança e custos elevados. Tudo isto deve ser o "modo português de estar no mundo".

mva | 09:41|