OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


8.3.07  

Armários e mais armários

Hoje na TSF falava-se de Barros Basto. Ele foi, na primeira metade do século XX, responsável pelo renascimento judaico em Portugal, país hoje conhecido internacionalmente como um centro de anusim. Ajudou centenas de marranos a sair do armário religioso. O processo continua hoje, em muitas cidades e aldeias de Portugal e na diáspora. Barros Basto foi claramente perseguido pelo antisemitismo reinante. Mas uma das "acusações" que mais circulou contra ele foi a de ser homossexual, por presidir às circuncisões. Não, não é piada. E, sim, uma acusação de homossexualidade era uma acusação de crime. Duas identidades de pária recairam sobre ele - a de judeu e a de homossexual. O deslize de uma categoria para a outra diz-nos muito sobre os processos discriminatórios. Pouco importa que a última nem correspondesse à verdade - afinal de contas a homofobia não ataca apenas os homossexuais, ataca toda a gente. Mas a acusação seria também levada a sério pela tropa, que o afastou da dita em 1937.

PS: No fim do programa da TSF, a referência do entrevistador a um "homem perseguido por discriminação religiosa e política". Mas não foi também homofóbica a discriminação? Não para o entrevistador, que não vê isso e, assim, mesmo que inconscientemente, reproduz a ideia da homossexualidade como insulto. É justamente aí que a homofobia age sobre toda a gente. Desde logo sobre os milhares e milhares de armariados, autênticos anusim sexuais.

mva | 16:47|