OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


9.1.07  

Os neo-revolucionários

Já por várias vezes referi o curioso fenómeno que consiste na inversão de posição que o neo-conservadorismo promove: as propostas conservadoras - ou mesmo reaccionárias - são apresentadas como as verdadeiramente inovadoras, modernas, radicais, transformadoras, face ao que se representa como um status quo de esquerda, imobilista, avesso à mudança. Tudo isto se faz a partir do uso adequado da retórica, claro, mas não se sustenta sem a falsa premissa de que o status quo é de "esquerda". E mesmo havendo algum real imobilismo de alguma esquerda, ele não pode ser despachado sem qualificação: quando, por exemplo, os sindicatos falam de conquistas adquiridas podem estar a usar uma linguagem que não pega - de tão gasta - mas estão a referir-se, de facto, a conquistas históricas. Conquistas obtidas contra o mundo que os "revolucionários" neo-conservadores querem reinstituir. A inversão de posição depende da ideia falaciosa de que o regresso ao passado possa constituir um avanço, pelo simples facto de ser definicionalmente uma mudança.

Chegou agora a vez das universidades. Baseando-se na real "endogamia" e no real nepotismo que ainda vigora nalguns meios académicos (curiosamente aqueles que mais produzem neo-conservadores - e não-neo...), ou em experiências universitárias vividas há 20 ou mais anos, depressa se generalizou a ideia de que o mundo universitário é feito de elitistas partidários do imobilismo e de supostos privilégios. Vender esta ideia é a coisa mais fácil do mundo - quanto mais não seja porque carrega no botão da inveja social. Aos promotores desta ideia não interessa distinguir entre casos; nem analisar a realidade; nem verificar a validade das suas hipóteses. O que interessa é estabelecer um clima. Propiciador do quê? A resposta começará a surgir quando identificarmos quem promove esta visão...

mva | 14:54|