OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


25.12.06  

Uma festa de luzes e família

Cada vez mais em Portugal se dá a ver a pluralidade religiosa, para lá da hegemonia do catolicismo. Ainda bem. Provavelmente será esse o melhor caminho para relativizar culturalmente as crenças e práticas religiosas. Mas os relatos que aparecem, nos media por exemplo, nunca incluem a vivência do Natal (ou das "Festas") por parte daqueles que não pertencendo a uma religião minoritária em Portugal, tão-pouco se sentem ligados ao catolicismo. Na minha família estrita (aqui em casa) não celebramos nada, a não ser trocar presentes ao chegar a casa da festa familiar alargada de 24. Na minha família de origem, do lado materno, juntamo-nos na noite de 24. A celebração consiste num jantar e na distribuição de prendas, tudo antes da meia-noite. O símbolo presente é a árvore de Natal. Não há presépio (muito menos Missa do Galo, claro); quando muito há uma figura de Pai Natal, por exemplo no imaginário infantil, mas não me lembro de alguma vez se ter referido um Menino Jesus. No dia 25 não acontece absolutamente nada.

Rápido? Banal? Sem "tradição"? Sim e não. Esta é a tradição construída na prática, sem decisões dogmáticas, e que fala da vontade de fazer uma festa familiar, de satisfazer os desejos das crianças, de estar em sintonia com a comunidade maior à volta, mas sem ter que enveredar pelo lado confessional. Quantas mais tradições familiares deste tipo ou próximo dele existirão? Muitas, com certeza, tantas quantas as variadas formas tradicionais de celebrar o Natal (já assisti a várias, do Nordeste Transmontano à Serra Algarvia, que seriam completamente inesperadas para a maioria dos lisboetas de classe média) por essa "província" fora e que ficaram de fora do modelo "nacional" (e mesmo do católico) transmitido pelos media e pelo mercado.

mva | 14:30|