OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


22.12.06  

Luzes

A Igreja Católica queixa-se da banalização e secularização do Natal. Em suma, e simplificando, queixa-se do triunfo do Pai Natal e das renas sobre Jesus-criança e o presépio. Os sectores mais militantes da laicidade queixam-se da atenção dada ao Natal pelas instituições públicas, quer seja "com Pai Natal" ou com "Menino Jesus". As religiões que não a católica gostariam de ver respeitadas as suas festas coincidentes com o Natal. Os mais positivistas querem transmitir a "verdade" sobre o fundo "pagão" (solstício de inverno, festas em torno de "luzes" para combater a escuridão do inverno, etc) comum a todas.

Mas as pessoas - nós... - vão alegremente celebrando (ou resignadamente acatando...) festas cujo sentido está para lá das codificações confessionais, das explicações antropológicas, ou do que resta do projecto iluminista (outras luzes...). A nossa capacidade para resignificar símbolos, para os canibalizar, amalgamar e recompor (e para criar automatismos e obediências), ultrapassa qualquer discussão confessional, normativa ou política sobre a matéria. E ainda bem.

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