OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


1.12.06  

Gisberta no RTP

Ainda falta quase uma hora para começar a reportagem da RTP sobre o caso Gisberta e o sangue já ferve: os anúncios da reportagem referem-se a Gisberta no masculino. Ignorância? Maldade? "Objectividade"? Talvez um pouco de tudo. Mas sobretudo incompetência. Sim, porque se há coisa que os jornalistas são supostos partilhar com os antropólogos é levar a sério o ponto de vista dos outros. A autoidentificação duma transexual como mulher sobrepõe-se eticamente à heteroidentificação supostamente objectiva, mas que mais não é do que essencialismo crasso. Gisberta era uma mulher porque se apresentava como tal, ponto final. No dia a dia tão-pouco vamos verificar os genitais das pessoas que se nos apresentam como mulheres. Tratar Gisberta no masculino é dizer-lhe "tu não podes ser, tu não és - tu não eras - mulher". Percebe o RTP o insulto?

mva | 22:28|