OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


28.11.06  



Magia, mercadoria e socialismo

O antropólogo Michael Taussig escreveu há uns anos um livro chamado The Magic of the State, (entrevista interessante aqui) sobre a relação entre ritos mágicos tradicionais, rituais de possessão por espíritos e o funcionamento do estado-nação moderno. O seu trabalho versava uma "montanha mágica" na Venezuela, Maria Lionza. A iconografia do estado, tal como transmitida através dos manuais escolares, penetrava o panteão de espíritos. Simon Bolívar lá tinha o seu lugar, tranformando-se assim o herói nacional em espírito venerado/venerável - e possuível, supõe-se. Posto de forma simplista: os heróis nacionais tornam-se em "deuses"; a narrativa do estado-nação surge como uma mitologia; o culto do sagrado e o culto do estado vão-se equivalendo. Ora bem, será que o boneco Chavecito é um sinal de que o mesmo está a acontecer ou vai acontecer com Chávez? Quantos anos até que ele entre no panteão? Depois da sua morte, quanto tempo até que alguém seja possuído por ele? O processo já começou, graças à intervenção de outro factor - o mercado; com aprodução em massa de milhares e milhares de bonecas de Chávez, quais ícones, santinhos ou orixás. À magia do sagrado e à magia do estado, junta-se a magia do mercado. Deve ser uma nova via para o socialismo...

mva | 11:05|