21.10.06
Dia de São Dagem
Segundo a sondagem da Universidade Católica feita junto de 1281 pessoas, 56% destas são contra qualquer forma de união oficialmente reconhecida entre duas pessoas do mesmo sexo, desde meras uniões de facto com alguns efeitos, até ao casamento. A sondagem da Universidade Católica oferece às 1281 pessoas "alternativas" ao casamento: "formar uniões com os mesmos direitos legais de um casamento" e "formar uniões só com alguns dos direitos legais de um casamento". Apenas 19% das 1281 pessoas são a favor do casamento tout court.
Em 2004, uma sondagem da Aximage dava 35,3% a favor da igualdade no acesso ao casamento. Sem as "alternativas" (a igualdade de direitos tem alternativas que não sejam a... desigualdade?) que têm vindo a surgir no debate público português (nomeadamente através de Rebelo de Sousa), estimuladas pela iníqua "alternativa" britânica da parceria registada, vendida como "casamento" (é assim como se houvesse dois tipos de cidadãos nacionais: os que têm todos os direitos e os que têm todos os direitos menos o de usarem o título de cidadão nacional...)
A partir da sondagem da Universidade Católica a 1281 pessoas supõe-se que 44% poderão ser convencidas - desde logo pelo governo deste estado de Direito - de que a igualdade de direitos não é apenas uma questão de "valores", "moral" ou "temas fracturantes" como quase todos os outros temas que são inquiridos nesta sondagem. Colocar a igualdade de direitos no mesmo plano que o consumo das drogas ou o sacerdócio feminino numa confissão religiosa é mais do que enviesamento: é partilhar da premissa (e oferecê-la aos inquiridos) de que há um problema moral (para não dizer pior) com a homossexualidade.
E se a pergunta tivesse sido a única da sondagem? Ou junto com outras perguntas relacionadas com a igualdade perante a lei? E se o termos da pergunta tivessem sido: "Acha que todas as pessoas adultas, mentalmente capazes, não-casadas, e sem laços de consanguinidade devem poder aceder ao casamento civil?" Caíam o Carmo e a Trindade por causa do "enviesamento".
PS (também literalmente): Do mesmo modo que a questão da igualdade no acesso ao casamento não é uma mera questão jurídica, tão-pouco o é de "moral" ou de "valores". É uma questão política sobre quão a sério se leva a igualdade dos cidadãos na lei. É assim tão difícil percebê-lo?
PS2: Porque será que nos inquéritos sobre "valores" nunca se pergunta se as pessoas acham bem que haja pouca gente muito rica e muita gente pobre? Resposta do pensamento único: porque isso é da natureza das coisas, não há que achar bem nem mal.
PS3: E porque nunca se pergunta se as mulheres devem ter direito a voto (com as alternativas "sim, mas só contando metade" e "sim, mas com o boletim preenchido pelo marido")? Porque já se interiorizou que não se trata de uma questão de "valores" mas de igualdade política incontestável.
mva |
11:04|
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