OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


27.10.06  

Antropologia espontânea ao pequeno-almoço

O café que frequento diariamente é diferente da maioria: em vez de estar sempre de porta aberta, está sempre de porta fechada. Como deve ser, aliás, para evitar demasiado frio no inverno e demasiado calor no verão, permitindo que a climatização funcione. Como todos os dias ali passo uma meia hora, já deu para perceber que a maioria das mulheres fecha a porta depois de entrar ou sair, e que a maioria dos homens não o faz. Já se tornou comum queixarmo-nos - empregados e clientes habituais - da "falta de civismo das pessoas". Mas hoje, tanto eu quanto um dos empregados, coincidimos na questão do género. Dizia o empregado que, além da relação com a porta, a maioria dos homens (que, naquele local, são sobretudo funcionários de escritório) comporta-se de forma "stressada". Dizia o empregado que às vezes pensa que se trata dum teatro para mostrar como estão ocupados, e ocupados com coisas importantes. Acrescentei um ponto, regressando à questão da porta: foram habituados a que mães e esposas (e nalguns casos também as filhas) façam tudo; eles deixam tudo por fazer e preocupam-se com as coisas verdadeiramente "importantes". O empregado - que põe mesas, serve refeições e outras actividades de serviço e cuidado... - concordou.

Não tarda nada fundamos um pequeno núcleo de estudos do género em contexto de café.

mva | 16:52|