OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


12.9.06  

Al-Gharb

«...os muitos erros e excessos cometidos na luta antiterrorismo não autorizam que se escreva, como ontem fazia a bloquista Joana Amaral Dias, "que o Ocidente se aproxima do fundamentalismo que pretende combater". Quanto mais não seja porque no Ocidente continua a ter a liberdade de escrever e intervir, o que faz toda a diferença (...) Mas tocar a reunir é fundamental, se ainda nem sequer sabemos qual a real dimensão das ameaças (sobretudo na Europa), se duvidamos da possibilidade de a democratização do Médio Oriente ajudar a isolar os extremistas e se discutimos a melhor forma de levarmos os nossos próprios muçulmanos (os que nasceram entre nós e têm passaportes europeus) a afastarem-se dos extremistas e a fazerem rimar islão com liberdade e democracia...»

Estas citações são do editorial de José Manuel Fernandes no Público de hoje. Não foi o seu conteúdo explícito que me chamou a atenção (por exemplo, não acho que a frase da Joana ajude a pensar eficazmente sobre os dias de hoje), mas sim dois "implícitos" que hoje proliferam e que se transformam na verdadeira mensagem: "Ocidente" e "Nós". O discurso sobre o terrorismo de inspiração fundamentalista islâmica produz cada vez mais um fetiche chamado "Ocidente", uma dicotomia "Nós/Eles", e um "Nós" que elide todas as desigualdades e contradições internas. Se eu fosse um muçulmano laico e democrático e lesse estas coisas, começaria a ter dúvidas sobre a minha laicidade e sobre a democracia...

(hiperlink mental exagerado e um bocadinho maldoso: de repente ocorreram-me as frases coloniais sobre trazer os nossos selvagens à civilização cristã e ao progresso)

mva | 09:00|