OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


28.8.06  

A tristeza de Manuel Monteiro

«"Fazer uma revolução à direita é, antes de mais, libertar a direita e combater o estigma que ainda existe no nosso país 32 anos depois [da Revolução do 25 de Abril] que ser de direita é ser do antigamente ou ser dos ricos", declarou Manuel Monteiro na intervenção que fez naquele que foi o primeiro comício da história do PND. (...) Monteiro disparou em todas as direcções, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa. Colocou-o, indirectamente, nas fileiras dos herdeiros do último presidente do Conselho do Estado Novo» (Público)

Sempre que vejo Manuel Monteiro fico triste. Há qualquer coisa nele que inpira tristeza. Parte disso vem dessa impressão que transmite de ser órfão daquilo que gosta e admira. A direita "rica" não o quer. Ele próprio o diz: "Há muita gente que me ataca porque não sou da direita das tias, nem dos clubes, nem do cerco social, eu sou do povo e estou aqui para vos dizer que a esquerda não tem o monopólio de tratar da pobreza". Acontece, porém, que o papel de populista pró-pobres tão-pouco lhe assenta bem.

Mas numa coisa tem razão: Marcelo Rebelo de Sousa está para a política como o historiador televisivo Saraiva está para a História. O pior é que muitas pessoas gostam deles, da autoridade patriarcal de sala. São, nesse sentido, organicamente de direita; o tipo de personagem que olha para Manuel Monteiro (mas nunca o diriam, claro) como o filho do caseiro. Os senhores doutores que fascinam com a sua conversa - e os filhos dos caseiros que espreitam pela porta dos fundos - fazem sistema. O filho do caseiro sente revolta, intui que há injustiça. Mas quer mudar as coisas ocupando o lugar do contador de histórias na saleta. O contador de histórias na saleta acha graça ao filho do caseiro e assiste uma vez por ano às festas populares em que este participa - o que dá sempre mais uma história para a saleta. Mas o filho do caseiro apenas pode ouvir os risos da saleta a partir da cozinha. Na saleta não entra. A História continua, lenta.

mva | 11:13|