OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


14.8.06  

Os termos do debate (ou os debates sem termos)

Isabel do Carmo e Esther Mucznik estão em polémica no Público sobre a guerra no Líbano e Israel. A discussão descambou rapidamente para questões de primazia territorial histórica (quem "lá estava", quem "chegou primeiro" etc), para questões "raciais" e "étnicas" (ai...), para a valoração moral dos acontecimentos históricos como fornecedores de mais ou menos "legitimidade", "culpa", e inspiração de várias penas, solidariedades ou admoestações. Este é justamente o tipo de discussão que não interessa. Porque, a interessar, deve ser aplicado a TODA a gente. E, aplicando-se a toda a gente, percebe-se depressa que não se chega a lado nenhum.

Na África do Sul praticamente toda a gente percebeu que, do ponto de vista pragmático (mas não só, ético também), a partir de um certo momento (que nem importa definir - é o hoje) TODA a gente pertence, TODA a gente que está, é de lá. Recusou-se a loucura ideológica do primordialismo, da genealogia, do quem chegou primeiro. Há quem em Israel, na Palestina, no Líbano, etc, também pense assim. Mas perdem sistematicamente. E a sua derrota é alegremente apoiada no exterior por debates como aquele. Pelos termos de debates como aquele.

(No mesmo dia e noutro jornal, o curioso César das Neves fala da "naturalidade" da "família" e dos ataques contra ela por parte das "ideologias". Numa alusão à imagem da árvore genealógica, torna explícita a lenha com que se ateiam os fogos em que a Isabel e a Esther se metem)

mva | 11:34|