OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


9.8.06  



Hipótese

É ou não o heterossexismo uma estrutura de privilégio? É. Porque é tão difícil admiti-lo? Porque a categoria desprivilegiada surge demograficamente como uma minoria; ao contrário das mulheres, dos pobres, dos não "brancos". Mas este é justamente the crux of the matter: o heterossexismo é tão bem sucedido como estrutura de privilégio que impede o próprio "crescimento demográfico" da categoria desprivilegiada. O heterossexismo e a homofobia funcionam na base da exclusão da possibilidade mesma de se poder vir a ser gay ou lésbica - através da estrutura familiar, da educação, das representações, dos rituais e performances de reconhecimento e instituição da conjugalidade, etc (para não falar na prática directa da violência, mesmo da simbólica).

É por isso que entristece quando tanta gente supostamente esclarecida, progressista ou mesmo sexualmente não-hegemónica encolhe os ombros perante a questão do casamento. Não percebem que o mainstream hetero reage contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo porque sente que isso conspurcaria a sacralidade do seu privilégio, geraria um efeito de igualdade nas representações e, em última instância, acabaria com o privilégio. Seria um golpe no alicerce da estrutura. E não por ser uma "revolução", mas precisamente por ser uma transformação do sentido (meaning) do que já existe.

mva | 12:03|