OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


24.7.06  

A questão hesitante

«-E o que acha do casamento de homossexuais ?
-Aceito os contratos de partenariado, sim. Já o casamento é uma instituição própria de uma relação heterossexual. Não tem para mim sentido recusar-se um determinado tipo de relação, legitimamente, porque faz parte da tal liberdade. Mas para mim o instituto tem de ser diferente.
-Isso não é discriminatório?
-Não. Para ser discriminatório era preciso que as questões fossem em tudo iguais. Podem ser iguais nos afectos, mas não são materialmente iguais e requerem respostas diferentes. Muitos sistemas jurídicos têm dado essas respostas. O casamentos mantém-se para as uniões heterossexuais e os contratos de partenariado para as relações homossexuais.
-Espanha não entendeu assim...
-Com certeza que não. Agora eu já nem entendo que essa questão seja uma fracturante. Já não é na minha geração e menos ainda na dos meus filhos.» (Paula Teixeira da Cruz, no Público)

PTC é das poucas pessoas que, no PSD (e até no PS, já agora...) se assume como liberal. Nesta mesma entrevista toma posições claras sobre aborto, ou drogas, por exemplo. Porquê então esta hesitação neste tema? Porquê o recurso ao argumento "não são materialmente iguais"? A que "matéria" se refere? À genitalia? PTC não acha que esta seja uma questão fracturante. É bom sinal. Mas então porque introduz ela mesma a fractura no seu raciocínio? Trata-se, bem à portuguesa, duma questão hesitante.

mva | 10:12|