3.7.06
O verdadeiro inimigo é o que não irrita logo logo
«EM PORTUGAL, tem sido travado o radicalismo extremo e a pressa excessiva das minorias vanguardistas que pretendem a aprovação de legislação que "fractura" (a expressão é dessas minorias) a concepção antropológica fundamental da nossa cultura e da nossa civilização, de raízes greco-romanas e judeo-cristãs. (...)Deve pois haver a maior cautela nestes "avanços fracturantes" em matérias que tocam a identidade antropológica, a vida e a dignidade humana, tais como foram secularmente consagradas no fundamento da nossa cultura e da nossa civilização.»
O artigo é de Mário Pinto, no Público. Quando as coisas apertarem, é este tipo de argumento que é perigoso, não os arrazoados de César das Neves. O artigo fala de casamento homossexual, aborto e prociração medicamente assistida. Tem uma noção de história e progresso perfeitamente Evolucionista; usa normativamente expressões como cultura e civilização sem as explicar ou criticar, de modo a que o seu valor de fetiche funcione; e usa "antropológico" na mesma acepção disparatada da teologia católica e do Direito conservador.
O seu tom - a suposta "cautela" - vem do "fundo dos tempos", mais exactamente entre 1926 e 1974, aparentando o "bom senso" que cala fundo nas almas reprimidas e contamina eficazmente o "centrão sociológico" (não é o texto, afinal, uma carta de agradecimento ao PS?). O verdadeiro "inimigo" é deste tipo, mais ainda do que os Césares das Neves ou os neo-nazis. Eles dizem dislates, Mário Pinto tem o "fundamento antropológico" todo: a sintonia com o patriarcado e a sua auto-representação naturalizada, o discurso do "desde o princípio dos tempos", e até a treta do judeo-cristão (expressão detestável, se pensarmos no quanto os Inquisidores deveriam respeitar o hífen quando queimavam judeus...)
mva |
20:14|
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