OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


29.7.06  

[ ]

[Há qualquer coisa de perverso nesta coisa de ao mesmo tempo se estar em modo de férias, sol e praia, e estar atento a uma guerra na outra ponta do nosso mar do meio. Mas é assim a condição humana, claro. Sempre se riu e se amou em tempo de guerra, mesmo entre quem está lá, debaixo das bombas. Só que ontem, como se não bastasse isto, uma amiga relatava estórias de trabalhadores (sobretudo trabalhadorAs) com quem tem contactado profissionalmente: estórias da mais incrível exploração, ausência de direitos (melhor: do seu conhecimento, por parte das trabalhadoras; da sua aplicação por parte de empresários), resignação, interiorização do discurso da "crise" como legitimação dessa situação (há dezenas de anos que oiço falar de crise: não haverá algo de propaganda na coisa?), e uma impressionante resistência do classismo, do paternalismo, do clientelismo, e da aceitação disto tudo como uma inevitabilidade. Numa ponta do mar do meio, chovem bombas debaixo do sol; na outra ponta, o sol aquece o pântano.]

mva | 12:55|