OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


20.7.06  

Espanto. Impotência. E a seguir?

Não devo ser o único a sentir uma enorme dificuldade em escrever sobre (nem sei como lhe chamar) o que se passa no Líbano, na Palestina, em Israel. Tomar partido por um dos "lados", de forma clara, parece-me irresponsável. Identificar quem espoletou o quê (e, portanto, é "responsável") parece-me leviano. Proceder a longas análises contextualizadoras parece-me uma forma elegante, na melhor das hipóteses, de domesticar o espanto. Clamar pela paz, em absoluto, parece-me uma forma pueril de demissão. Não sei o que dizer. O assunto escalda e juntar letras para formar palavras sobre o assunto é caminhar sobre um campo de minas. Refugiam-se, as pessoas que sentem o mesmo, na afirmação dum princípio: nada começará sequer a resolver-se enquanto não houver um estado palestiniano de pleno direito ao lado dum estado de Israel seguro. Ou na listagem dos seus des-gostos: o fundamentalismo islâmico, o terrorismo, o terrorismo de estado, a ilegitimidade das ditaduras àrabes da região, o crédito excessivo dado à democraticidade da política israelense, etc

Posto isto - que é bom mas não chega, porque os princípios pouco mais do que aconchegam - regressa a mesma impotência. Será para ultrapassá-la que tanta gente avança tolamente para a tomada de posições, para o apoio a um "lado" ou outro, para o aproveitamento da tragédia para esgrimir as guerrinhas ideológicas domésticas? Seria bom não esquecer, pelo menos, que a primeira coisa que a guerra nos deve provocar é o espanto absoluto. Que ele se manifesta na impotência. Só depois disso é que se pode perguntar: e a seguir? Que faço? Que fazemos? Que exigimos que se faça?

mva | 10:31|