OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


16.7.06  



Dedicado às pessoas que se assumem como de segunda, a.k.a. tétés

1. Na questão do aborto há duas realidades com vida: o feto nas suas primeiras semanas, e a mulher. Não custa nada concordar com isso, já que a definição de vida é, neste caso, absolutamente genérica. Tão genérica que é inútil.

2. Dado o certíssimo valor da defesa da vida humana (que, mas isso é outra história, deveria aplicar-se também às guerras...), somos obrigados a comparar e estabelecer hierarquia entre estas duas formas de vida.

3. E a comparação leva-nos a isto: em primeiro lugar, que o feto e a mulher que o carrega não são duas entidades autónomas - o primeiro é algo que aconteceu ao corpo da segunda.

4. Em segundo lugar, que a mulher é uma pessoa que já existe na vida social, e sujeito pleno de direitos, ao passo que o feto nas suas primeiras semanas é apenas um potencial de pessoa, uma hipótese de sujeito.

5. Qualquer argumento supostamente "pró-vida" só consegue, em rigor, ultrapassar este flagrante desequilíbrio assumindo que considera as mulheres uma categoria subordinada de pessoa, um sujeito manqué(e).

(Tudo o resto, à esquerda e à direita, da questão dos julgamentos à "obra feita" de apoio às "mães", são argumentos tácticos - nada de mal nisso, mas enfim... - para ganhar no referendo que aí vem)

mva | 14:29|