OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


19.6.06  

Um duro galp

O meu coração chora por Pedro Bidarra. Neste país, empresário sofre. E não sofre só com sindicalista, sofre com fufa e paneleiro. No suplemento do Público dedicado à transformação do mundo empresarial em coisa light e de moda (em suma: em objecto de desejo), o Dia D, Pedro Bidarra é entrevistado. A polémica do hino da GALP é trazida à baila. Ele diz:

«Foi uma canção que eu, o Nuno Jerónimo e o Marco Pacheco escrevemos, como se escreve qualquer canção hip hop. E, portanto, tinha um palavrão no meio. Desde o princípio que a Galp concordou com o hino, mas pediu para tirarmos a palavra da letra. E nós substuirmo-la (sic) por um "pi...". Mas depois, por lapso, a música foi impressa com o palavrão lá. Pediu-se desculpa pelo erro e tirou-se a palavra da letra. Não tenho mais nada a dizer sobre um erro.»

Sobre a iniciativa da Sara Martinho e a movimentação na blogayesfera, ele diz:

«Não sei quem essa senhora é e sinceramente também não quero saber. Só sei que se você me mandar um mail e eu lhe mandar um mail de volta, não pode publicá-lo sem o meu consentimento. Foi uma conversa pessoal entre duas pessoas, que acabou publicada na net, que ela resolveu tornar pública, sem me pedir autorização. Mas não quero saber. A blogosfera é um sítio que não frequento. Tem coisas muito interessantes, mas também tem muitas outras que soam mais a comentários de casa de banho. É um sítio meio anónimo, de gente meio cobarde, que tem medo de dar a cara. Aprendi uma grande lição, que é não responder a mails de quem não conheço.»

Registamos o pedido de desculpas e a tentativa de emendar o erro. Continuamos é sem saber se os autores da letra acham normal o insulto às pessoas homossexuais num contexto que não é nem de humor (e mesmo assim...) nem interpessoal. Também ficamos a saber que Pedro Bidarra tem uma relação complicada com as modernas tecnologias: não sabe que o mail para onde a Sara escreveu era o da sua empresa, e não pessoal; e não sabe verificar via Google, em dois segundos, quem é Sara Martinho, activista da rede ex-aequo e blogueira (e é boa pessoa, é inteligente e dá o litro para um mundo melhor).

(Eu agora senti a tentação de rematar assim com uma brincadeira usando um insulto para os heterossexuais. Mas sabem que mais? Não há. Mas sobretudo porque tenho respeito: muitos deles são pessoas muito próximas - na família, no trabalho, entre os amigos, em todo o lado. Não ia recorrer a um galp baixo).

mva | 19:20|