OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


29.6.06  

Trans

@s transexuais são uma minoria dentro duma minoria? São. Sofrem de discriminação na sociedade e também, veladamente, no movimento LGBT? Sim. Têm direito, independentemente do que se ache sobre a forma como as questões de género são ou não tratadas de forma crítica pela maioria d@s transexuais, a todos os direitos de identidade de género que desejem e da forma que desejam? Sim. Devemos defender essa reivindicação como parte integrante duma luta geral contra o heterossexismo? Sim. O caso Gisberta trouxe à luz, de forma chocante, tudo isto? Sim.

Mas há mais. Precisamos de mais movimento trans organizado, que crie energias próprias face a um movimento LGBT que, naturalmente, é mais focado nas duas primeiras letras. Precisamos de mais diálogo e abertura entre segmentos do movimento. Precisamos de propostas concretas no plano da educação, prevenção, legislação e combate à discriminação nas questões trans.

O inimigo não é um segmento do movimento LGBT. O inimigo é a homofobia, que é um corolário do sexismo. E a transfobia é uma forma específica de homofobia - neste sentido geral, que não tem apenas a ver com homens gay - que acentua a raiz sexista dos problemas que nos afectam a tod@s.

É por isso que o documentário feito na sequência do assassinato de Gisberta, na perspectiva dum activista (o público geral talvez, admito, tenha outra perspectiva) peca pelo enfoque, num dos seus segmentos, na culpabilização dos desentendimentos dento do movimento LGBT, transformado em "poder" - quando o poder verdadeiro está alhures.

Sr. Miguel Vale de Almeida

PS: Quanto à "violência" da minha opinião, não me custa reconhecer que às vezes "me passo". Mas também me espanta sempre a forma como na cultura portuguesa toda a gente passa a vida a dizer que é muito sincera e directa mas chocando-se sempre quando alguém emite uma opinião franca. Para mim o Sérgio Vitorino continua a ser um compagnon de route imprescindível na luta contra a homofobia.

mva | 20:09|