OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


16.5.06  

Mentes inférteis

Pediu-me a Associação Portuguesa de Infertilidade que publicitasse a sua "Carta Aberta à Assembleia da República". Infelizmente a Carta é demasiado longa parta ser reproduzida num post. Fica aqui um extracto:

"... Não bastava às pessoas inférteis a infelicidade da doença, não bastava o desprezo institucional a que vinham sendo votadas, agora perspectiva-se um diploma que definitivamente legitima a segregação oficial das pessoas inférteis: discrimina-se entre as que têm ou não gâmetas próprios; entre os homens (com direito ao estatuto de dador de sémen) e as mulheres (sem direito ao estatuto de dadoras de ovócitos); entre as pessoas que têm mais ou menos dinheiro para aceder imediatamente às clínicas privadas no estrangeiro; discrimina-se ainda, no ano de 2006!, entre as mulheres casadas (ou em união de facto) e as que vivem sozinhas. Consideramos estas formas de discriminação absolutamente inaceitáveis num Estado de Direito...."

Têm toda a razão. (Seria útil uma página web própria, onde a Carta estivesse disponível. Fica, no entanto, o e-mail:assoc.portuguesa.infertilidade@gmail.com. Mas eu ainda iria mais longe (ou mais perto: mais perto do mundo real, das pessoas e da decência, acho): para lá da infertilidade como doença ou condição, há as mulheres, lésbicas ou hetero, que pura e simplesmente não querem reproduzir através do sexo com um homem. Achar, como acha o governo (e não só) que isso é um capricho, uma bizarria ou um perigo (para quem? Para As Crianças, claro...) é apenas mais uma instância da aflição cavernícola que caracteriza as mentes inférteis que gerem o nosso país.

mva | 20:12|