OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


10.5.06  



Influência

Resolvi entrar numa de batata de sofá (tradução literal de couch potato). O espectáculo televisivo popular era um telefilme, muito anunciado, ficcionando a chegada da gripe das aves aos EUA, já transformada em pandemia com transmissão humano a humano. Muitos avisos, dizendo tratar-se de ficção. Até mesmo, no intervalo, com uma das actrizes avisando que tudo é what if e que por enquanto a gripe não chegou à América (a gripe dos outros...). Na historinha do filme, tudo começa na China: um empresário americano transporta o vírus consigo no regresso a casa. A mesma China que se tornou no mais recente objecto de desejo e receio dos americanos. Depois, bem, depois a história é uma história de terror, de crítica muito velada à tentação totalitária do estado em situações de emergência, de elogio da solidariedade humana perante a adversidade, e de reconciliação final entre cidadãos e estado.

A gripe é aviária, partilhando o campo semântico com a aviação do outro drama americano. Não há como gerar medo para poder, de seguida, dizer que o estado está aí para nos proteger. E que a única forma de escapar ao medo é depositar plena confiança no estado e nos seus mecanismos de controlo da contaminação em massa por uma entidade desconhecida vinda de fora.

mva | 17:39|