12.5.06
Da velocidade das águas de bacalhau
A nova lei da reprodução medicamente assistida é um insulto. Reserva o acesso a este cuidado de saúde a casais heterossexuais. Isto é, a lei discrimina com o maior dos à-vontades. «"Acho que é um bom documento, no sentido em que minimiza os danos que algo muito avançado para o país poderia causar", diz Carlos Miranda, o deputado social-democrata que tem feito parte do grupo de trabalho sobre a RMA» (no Público). De fora ficam as mulheres sós, porque como toda a gente sabe as mulheres são incapazes de tomar decisões racionais e responsáveis sozinhas. E assim evitam-se "os danos", que todos sabemos quais são: a possibilidade de um baby boom lésbico como o dos anos 90 nos EUA ou em algumas regiões de Espanha.
Falava eu outro dia da necessidade duma narrativa nova, progressista e inclusiva para o nosso país. Mas como é possível, se é o PS que, quando no governo e com maioria absoluta, mais promove as apropriadamente portuguesas águas de bacalhau? Na mediania burguesóide da nossa classe política, é de bom tom dizer que "tem que se ir devagar", "com cuidado", "dando tempo à reflexão" (é claro que nada disto se aplica quando se sentam ao volante dum carro). A cautela é a versão moderna e hipócrita do reaccionarismo quando já não se pode dizer "mulheres sózinhas com filhos? nem pensar!; lésbicas com filhos? Muito menos!"
mva |
15:20|
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