17.4.06
Não pensem num elefante
Conhecia George Lakoff, linguista e cognitivista, como co-autor de Metaphors We Live By, um livro fundamental para antropólogos. Fui agora redescobri-lo num contexto bem diferente. Numa livraria gay (mas não só) na Boystown de Chicago, encontro um livro-panfleto, de 2004, intitulado Don?t Think of an Elephant . Know Your Values and Frame the Debate (sampler disponível aqui). Está escrito no modo livro de auto-ajuda? Está. Só que em vez de isso ser uma desvantagem, é um benefício. Porque ajuda a aligeirar o peso académico e por vezes pomposo com que se "pensa à esquerda". Lakoff parte do facto histórico de os conservadores americanos terem conseguido dominar o frame do pensamento e linguagem políticas, graças a um enorme e bem financiado esforço de criação de think tanks. Aprenderam as lições da linguística e das ciências cognitivas e aplicaram esses conhecimentos à sua tarefa de domínio "das mentes", isto é, criaram senso comum ou, como diriam os mais sofisticados, hegemonia.
O primeiro capítulo, "Framing 101: How to Take Back Public Discourse" é o melhor. Não só explica como funciona o nosso pensamento através da adequação das mensagens a frames e associações metafóricas (tax relief, na linguagem de Bush, faz com que se associe a diminuição dos impostos a uma salvação ou alívio ? relief -, quando se trata de facto de acabar com os serviços públicos e a assistência), como desconstroi o trabalinho feito nos últimos anos pelos neocons de várias subespécies.
Duas frames fundamentais existem para Lakoff e baseiam-se em metáforas da família, extensíveis ao campo do político: a do strict father e a dos nurturing parents. Embora todas as pessoas possuam as duas, em contextos de vida diferentes e mais ou menos activadas ou dormentes, a primeira preside ao pensamento conservador e a segunda ao progressista. Lakoff apela a que os progressistas façam como os conservadores fizeram: aceitar que há diferenças entre si e partir para um ponto de encontro que não pode ser conseguido na base de listas de políticas concretas como é costume, mas sim em valores. As pessoas, ao contrário do que diz a teoria da escolha racional, votam mais de forma identitária do que com base na consideração do seu auto-interesse. E os progressistas não têm oferecido valores, isto é, bases para uma identificação. Bases que afirmem o valor do modelo nurturing parents (como raio se diz parents em português sem recorrer a uma expressão com género?!)
Não cabe num post ir muito fundo. Mas uma visita ao Rockridge Institute - provavelmente o primeiro think tank progressista - vale a pena. Só falta mesmo que saia o Rockridge Manual for Progressives, que deverá estar disponível no verão. E da nossa parte, portuguesa, pensar se isto faz ou não sentido. Muita coisa não fará. Mas a parte pragmática (capº 10) de Don?t Think of an Elephant fará ? tem tudo a ver com a transformação da forma de discutir, agir, reagir, pensar e comunicar dos progres nacionais. Seria excelente se em Portugal emulássemos o Rockridge Institute (sim, isto é um desafio)
PS: Outros links onde Lakoff circula: AlterNet.org, BuzzFlash, The American Prospect.
mva |
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