OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


12.4.06  



500 anos foi ontem

Também me associo ao apelo d' A Rua da Judiaria, de que tomei conhecimento através do Renas. Ainda há dias, numa aula aqui na Universidade de Chicago, um aluno português falava deste assunto, numa conversa sobre os mitos da suposta tolerância racial e étnica portuguesa. E há meses o Jeff Cohen, pianista agora a viver em Portugal, desafiava-me para congeminarmos alguma coisa para este Abril. O Teatro Nacional D. Maria II é que deveria "mexer-se", ele que está instalado lá mesmo no local do terror. Teatro, performance, ritual: nunca terão sido levados tão longe como naqueles "espectáculos" de "purificação" nacional e religiosa. Pouco importa, nestes casos, a contextualização e relativização históricas. Lembrar, hoje, a perseguição aos judeus, é dizer que quem nós somos hoje nada tem a ver com aquilo. Isto é: que não nos queremos ver como tendo algo a ver com aquilo. Esse sim, é o teatro, a performance, o ritual que importam.

PS. A culpa é do próprio, claro. Sobretudo em tempos de internet (ainda me lembro como nos finais dos anos 70 os meus pais me enviavam o Expresso - naquela época lia-se - por correio, chegando aos EUA ao fim de semanas). De que falo? Duma espécie de alheamento em relação às notícias provocado pela mudança de local. Fica-se alheado das notícias do país de origem, mas também das do novo local e das internacionais. Como se a vida passasse a ser uma atenção constante a pormenores pessoais de adaptação e resolução de pequenos problemas. Não impede que, pelo "canto do olho", se vá vendo e ouvindo isto e aquilo: as eleições italianas, as marchas enormes pelos direitos dos imigrantes nos EUA... Este estado de auto-centramento deverá desaparecer dentro de dias. Assim o espero - e assim têm o direito de esperar os leitores dos TQC.

mva | 05:21|