OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


25.4.06  



25 de Abril

A melhor maneira de celebrar o 25 de Abril é identificar quem anda a conseguir contrariar o discurso cada vez mais hegemónico dos neo-conservadores, sem cair no simplismo de opiniões baseadas nas cartilhas "teóricas" de alguma esquerda. Três exemplos:

Pena Pires diz:

«Ideólogos são sempre os outros! Como se ideologia não fosse o que Espada faz em cada artigo que escreve. E ideologia de serviço, para usar os seus termos, a uma causa bem identificável: a do neoconservadorismo que tem nele o principal porta-voz em Portugal. (...) dispõe de recursos de propaganda abundantes e eficazes. Tem sido capaz de influenciar, directamente ou através das alianças que estabeleceu nos média, a agenda comunicacional no país. E, agora, integra um dos centros do poder político institucional: a Presidência da República.De início, nos EUA, todos se riram também com o aparente ridículo das tiradas dos neoconservadores que levariam Bush filho ao poder?»

Madalena Barbosa diz (no inlinkável Público):

«Para quem não se tenha dado conta, falar de quotas contrapondo mérito é partir do princípio do desmérito das mulheres. Isto é discriminação. Dizer que só lá estão as mulheres de, filhas de, sobrinhas de, é discriminação. Foi o argumento usado contra as sufragistas: por que dar o voto às mulheres? Vão votar no que os maridos, os pais, os irmãos dizem, é inútil e fútil. Este discurso humilhante não parece humilhar as mulheres. O que as humilha são as quotas. Porque elas nunca foram discriminadas, embora admitam que têm de ser duas ou três vezes melhores que os homens para chegar a qualquer lugar na carreira, na política, seja onde for. Mas se não existe discriminação...»

Fernanda Câncio diz, citando entrevista a Amos Oz:

«E Israel, o que é? "Para mim, representa uma data. Foi há 45 anos, a 29 de Novembro de 47, quando as Nações Unidas decidiram dividir a terra entre israelitas e árabes. Só havia um rádio na zona. Eram 2 da manhã e estavam 2000 pessoas na rua para ouvir a transmissão, em silêncio. Devia ter visto a alegria. Não era o Carnaval do Rio. As pessoas choravam como crianças. As lojas abriram-se, distribuiram-se bebidas. Às 4 da manhã, o meu pai meteu-me na cama e deitou-se ao meu lado. Percebi que ele estava a chorar. E disse-me: 'Filho, quando eu tinha a tua idade, na Rússia, apanhava na escola por ser judeu. E o meu pai, e o meu avô. Tu podes apanhar na escola, mas não por seres judeu.' Até hoje, estas palavras são para mim a raison d'être do estado de Israel."»

mva | 18:30|