12.3.06
A última a morrer
É uma pequena aldeia, com uns 900 habitantes, a cerca de 150 km de Lisboa. Em tempos a mão de obra local trabalhava numa indústria regional. Parte republicanismo, parte movimento operário ajudaram a construir um clube desportivo/associação local. Desde então que se deve ter instalado a tradição do teatro, entre outras. Hoje, na "pós-modernidade", a associação continua. Pelas mãos sobretudo de jovens. Sim, a aldeia não está despovoada. Os jovens, licenciados, resolveram ficar por lá, encontrando oportunidades de trabalho em diversas sedes de concelho à distância de 20 minutos de automóvel (sim, têm automóvel). Dinamizam a associação com eventos culturais, construiram um auditório, fornecem refeições às crianças da escola contribuindo para que muitos pais prefiram ficar a residir ali em vez de se mudarem para a cidade mais próxima. Ontem fui lá. Era um debate sobre cidadania. Focada na relação entre os cidadãos e a política. Deputados à AR, eu, e um antigo professor do liceu da zona, verdadeira figura de intelectual local - no bom sentido do termo. Na sala deviam estar umas cem pessoas, da aldeia e arredores e o evento foi transmitido ao vivo por uma rádio local, não afiliada a grandes grupos.
Eu não tinha nada a dizer sobre cidadania. Cidadania é o que aconteceu ali.
PS: Ao mesmo tempo decorreu no Centro Comunitário Gay e Lésbico de Lisboa um debate sobre parentalidade. Estiveram presentes pais e mães, casais ou não, de gays e lésbicas com filhos - "biológicos" ou adoptados. Os miúdos também lá estavam, segundo me constou felizes, irrequietos, encantadores e insuportáveis como todos os miúdos. Consta que foi um desses momentos que ficam na memória das pessoas: we're here, we're parents, get used to it. Cidadania também, pois claro.
mva |
20:14|
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