OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


25.11.05  

Twisted minds

Vasco Pulido Valente escrevia hoje sobre como a ICAR não influencia verdadeiramente ninguém. Até certo ponto tem razão. Mas só no que diz respeito à discrepância entre dizer-se católico e aquilo que se faz. Exemplo típico: ir à missa e, mesmo assim, fazer um aborto. (Devo dizer que nem sequer acho isto uma hipocrisia; é apenas sinal de como a religião é outra coisa hoje em dia; ou se calhar sempre). Mas há um outro nível em que a ideia da pouco influência da ICAR não se aplica: é que quando se pergunta a essa mesma pessoa (do exemplo) o que ela acha sobre o que os outros devem fazer, aí a influência é aceite e transformada em dogma. Por exemplo: votar contra o aborto num referendo. A palavra que normalmente se usa para descrever esta situação é moralismo.

Isto faz-me pensar num outro mistério que me persegue: você é homossexual assumido e vai à TV falar dos direitos de gays e lésbicas. Alguns espectadores telefonam e dizem coisas do género "eu não tenho nada contra os homossexuais, eu respeito-os, mas eu acho que é uma doença". O à-vontade com que dizem isto revela que nem têm consciência de quanto o estão a insultar (você é, disse que é, um homossexual). A única explicação para isto é que muita gente faz uma distinção radical entre casos (pessoas) concretos e o conceito geral de "homossexualidade".

mva | 20:36|