OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


4.11.05  

A politicazinha sexual.

Primeiro foi o adiamento do referendo sobre o aborto e a recusa em alterar a lei no Parlamento (a que se seguirá o triunfo do sector católico do PS propondo a moratória nos processos judiciais de mulheres acusadas, fazendo assim a cama para uma crescente deslegitimação da necessidade de alterar a lei...); depois foram os projectos-lei relativos à procriação medicamente assistida, sendo que nenhum consegue sequer chegar aos calcanhares da lei espanhola de 1988(!!!); agora foi o relatório do grupo de trabalho sobre educação sexual, que basicamente vem dizer que não vale a pena fazer nada, a não ser que se entenda por sexualidade o controlo das gravidezes adolescentes e das DST através da vigilância médica; e quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o tema entra por um ouvido, é triturado pela santa inquisição mental, e sai pelo outro directo para o dossier que diz "Obras de Santa Engrácia", essa nobre instituição portuguesa do empastelamento, da cobardia e do cheiro a mofo.

Percebemos agora todos o que se passa: o "aflitismo" (ou, se quiserem, o "medo de existir" de José Gil) faz com que em Portugal não haja, nem à esquerda, política sexual; não há "tomates" (nem "ovários"); há uma política de gónadas atrofiadas, uma politicazinha sexual.

mva | 11:38|