OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


13.10.05  

Ou sim ou sopas.

(uma coisa que me anda a atazinar de há meses para cá...)

Quanto mais se fala do alargamento do casamento civil a casais de pessoas do mesmo sexo mais vão surgindo as reacções. É natural e bom que assim seja. Se deixarmos de lado as opiniões contrárias baseadas em opções ideológicas de fundo (por exemplo, assumidamente religiosas), o que me preocupa são as posições ambíguas e supostamente cautelosas. Umas dizem "casamento sim, adopção é que não"; outras dizem "sim, mas não lhe chamem casamento"; outras dizem "para quê casamento, que antiquado - e os gays e as lésbicas inventaram formas de conjugalidade tão inovadoras, para quê retroceder?"; outras ainda - e estas mais nas áreas políticas que poderiam apoiar esta causa ou que afirmam apoiá-la - dizem que concordam com tudo, mas acham pouco urgente, pouco solicitado pela sociedade, dependente de transformações anteriores (como a despenalização do aborto), etc. Em muitos destes últimos casos algum ou todos os argumentos anteriores são também usados.

Tenho-me confrontado com muitas reacções destas onde menos esperava - o campo que se diz defensor da igualdade de direitos e, pior ainda, o campo que se afirma pela igualdade de género. Em praticamente todos os casos não posso deixar de sentir revolta. Não há outro nome. Porque este assunto, não afectando os direitos que os que podem casar-se já têm, não é um assunto em relação ao qual se possa emitir uma opinião contrária esperando tranquilamente que nós - eu, neste caso - aceite a hesitação ou a dúvida ou a ressalva como "mera opinião". É que trata-se de opiniões que transportam consigo, ainda que inconscientemente, a ideia de que nós - eu, neste caso - temos algo de errado connosco. Nestas despreocupadas opiniões, espreita sempre (repito, ainda que por automatismo cultural e falta de autocrítica) o insulto (Didier Éribon).

Participei, por exemplo, activamente em campanhas com várias pessoas que agora emitem estas diletantes opiniões. Neste assunto, vou mesmo radicalizar e perder o tino táctico-estratégico: não contem mais comigo para campanhas a favor da despenalização do aborto ou para presidências de repúblicas (as "batalhas" que se anunciam) se não manifestarem clara e taxativamente que são clara e pro-activamente a favor do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Acabaram-se as abébias.

mva | 18:15|