14.8.05
» A Grande Revisão.
«Posto isto, convém prevenir que não tenciono voltar a falar com Miguel Portas. Não lhe reconheço nem inteligência, nem competência, nem honestidade.» Assim termina Vasco Pulido Valente uma crónica no Público de hoje. Era em resposta a esta de Miguel Portas. O resto da polémica só a fui apanhar aqui, nomeadamente a citação de outra opinião, a de João Miguel Tavares.
Tudo isto por causa da interpretação de Hiroshima. Corrijo: tudo isto por causa da fome que a nova direita tem de rever a História, fingindo que não o faz. Fingindo que é só "realismo"; fingindo que é só "fria análise de factos". Na realidade trata-se de uma estratégia de criação de condições para poder, em qualquer momento, apoiar todas as formas de cerceamento de liberdades e direitos, apoiar todo e qualquer terrorismo de Estado, apoiar a ideia de que estamos em guerra contra o terrorismo (como se não tivéssemos sempre estado, como se não tivéssemos sempre devido estar).
Triste é que isto reflecte o que parece estar a começar a passar-se também no meio das ciências sociais em Portugal, cada vez mais dominado por esta estratégia cínica, em aliança com os impérios mediáticos e, ao mesmo tempo, procedendo a uma lenta purga (nos financiamentos para a investigação, nas promoções, nas lutas académicas, etc.) de tudo o que cheire a esquerda - porque agora, aplicada a estratégia, é fácil dizer que o problema "dessa gente" não é ser de esquerda mas sim não ser "objectiva", "fria", "séria", "útil", etc. - isto é, não estar em consonância com a nova Verdade revisionista.
mva |
20:33|
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