28.7.05
» A nova casta.
Irritam-me os constantes "manifestos" de "Os Economistas" (coitados dos economistas que não são "Os Economistas"...). Porque, sob a capa de um suposto tecnicismo, o que fazem é política. Política não assumida. Não há mal nenhum - antes pelo contrário - em fazer política. Mas que se assuma. Que não se disfarce sob a máscara da "técnica" e o "prestígio" da universidade ou do sucesso do grupo económico ou banco a que se pertence ou para que se trabalha. O nosso país está cheio de pessoas que a) derivam o seu prestígio da universidade, b) obtêm o seu poder real fazendo muito dinheiro trabalhando (ou "consultando") para grandes grupos empresariais e c) fazem "on the side" manifestos sobre "como as coisas deviam ser". Ora, a primeira obrigação de um cientista ou universitário que se preze é assumir que a ciência ou a técnica não são neutras; a primeira obrigação de um empresário que se preze é fazer com que a sua empresa faça muito dinheiro; e a primeira obrigação de um cidadão ou político é pensar no bem comum. Decidam-se, assumam-se, esclareçam. Mas não nos enganem com a suposta candura de puros ocupantes de uma torre de marfim técnico-científica. Depois dos juristas - e, nalgumas coisas, dos médicos - temos agora "Os Economistas" como a nova casta de brâmanes da Nação, puros e afastados das coisas "sujas". Mas quem são? O que fazem? Porque o fazem? Para que fazem estes manifestos?
E agora para algo de verdadeiramente mesquinho, mauzinho, ad homine e tendencioso: uma listagem dos grupos económicos e financeiros para que trabalham os subscritores (subscritoras quase não há...) dos vários manifestos d' "Os Economistas", e dos quais obtêm o seu verdadeiro poder (depois cosmetizado pela medalha de "Professor") seria muito esclarecedora.
PS: os argumentos destes manifestos e dos seus apoiantes jornalísticos raiam, por vezes, o erro lógico puro e simples. Como quando usam o exemplo da Irlanda ou da Finlândia para "demonstrar" que lá não foram necessários grandes investimentos públicos, por exemplo em transportes. Caros amigos: trata-se de ilhas, uma real, outra quase (basta ver um mapa). Aparte os aeroportos que já têm há muito tempo, já investiram o necessário nos ferry-boats que as ligam aos continentes (Reino Unido e Europa continental, num caso, Suécia no outro). Portugal não é uma ilha, mas sim parte de uma quase-ilha maior, a Península Ibérica. Se a vossa agenda é ainda a do capitalismo nacional a la Salazar, assumam-no. Se não, assumam como Sócrates a prioridade "Espanha, Espanha, Espanha". (Claro que a Ota é uma asneira colossal, mas por outras razões. E claro que a maior integração com Espanha não tem que ser submissão ao centralismo madrilenho).
mva |
20:25|
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