OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


4.7.05  

Ainda o arrastão.

Não há maneira de conseguir abrir o video de Diana Andringa sobre o "caso arrastão", em que presto umas declarações. Consegui vê-lo ontem, mas hoje nem a página abre. Enfim, talvez em breve, e aqui. De qualquer modo, o que é que eu queria dizer (uma vez que o que se diz, num vídeo ou entrevista é necessariamente diferente)? Em primeiro lugar o mais evidente (e o mais esquecido): que o "caso arrastão" é, mais do que tudo, a prova do estado de miséria da nossa comunicação social. Quando já nem se consegue dizer com segurança quantas pessoas participaram num "arrastão" ou se sequer houve arrastão, estamos mesmo mal. Em segundo lugar, que a criminalidade e as representações sociais da mesma (e das suas raízes, causas, etc) são dois problemas que vão juntos, precisando ambos de ser atacados com igual determinação.

Qualquer crime contra a segurança das pessoas é horrível e deve ser reprimido; qualquer situação de marginalização, pobreza e exploração de mão-de-obra imigrante é horrível e deve ser solucionada; qualquer demonstração de racismo e xenofobia é horrível e dever atacada. Não consigo hierarquizar os três problemas (nem como vítima que já fui do primeiro) enquanto prioridades na construção duma sociedade mais decente (por parte dum governo "socialista" com maioria absoluta...).

mva | 15:31|
Comments:
Consegui ver o filme, mas a qualidade estava um pouco má. Se calhar é da ligação, vou tentar fazer o download na qualidade máxima. De qualquer maneira a cronologia que faz fala por si.

A entrevista com uma senhora brasileira (não me lembro do nome) também ajuda a pôr as coisas em perspectiva em relação ao que se passa no Rio de Janeiro.

No meio disto tudo o mais espantoso é que desde o começo as televisões tinham dados suficientes para não cairem nesta esparrela; o directo da SIC por volta das 17 horas saiu completamente furado, entrevistaram uma miuda que disse que lhe tinham dito que um casal tinha sido assaltado por um grupo de 100 pessoas, e um bombeiro que disse que o dia estava muito quente, a praia muito cheia, e que qualquer altercação descambava rapidamente em excessos. Quem diria que esse bombeiro, talvez a 1ª pessoa a ser entrevistada para as câmeras seria aquela que faria a avaliação mais correcta da situação?!
Só que pelos vistos uma boa história é mais importante que os factos.

Pormenor interessante: os entrevistados de todas as reportagens dos telejornais da noite foram os mesmos.
 
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