OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


28.6.05  

Que país é o deles?

Um amigo queixava-se hoje do programa "Prós e Contras" (acho que se chama assim ainda) na RTP. Eu não vi, mas ele tirou-me as palavras da boca, pois parecia estar a fazer a síntese de tudo o que está errado com o espaço público mediático chênu. Um bando de homens - é sempre um bando de homens; maioritariamente economistas (os novos advogados); com imperceptíveis diferenças entre direita e esquerda; e falando um newspeak supostamente realista e incontornável (com uma autoridade que roça o autoritarismo, pelo menos intelectual): ele é "o País" (e o interesse do dito); ele é "a sociedade" (e a generalização da dita); ele é o "desenvolvimento" (e a não adjectivação do dito)... Acontece que estes termos são abstracções ideológicas. O intuito é usar termos que pareçam neutros e consensuais para ocultar escolhas que são marcadamente políticas. O governo (todos os governos até hoje) faz o mesmo. Não é no "interesse do País" que Sócrates toma as medidas que toma? Não é por "a sociedade não estar preparada" que se atrasa sempre a descriminalização do aborto, a legalização dos imigrantes e a mudança da lei da nacionalidade, ou se pretende esquecer a inconstitucionalidade do código civil no respeitante ao casamento?

mva | 13:48|
Comments:
experiência...
 
já que está em experiências, um conselho: não experimente o casamento, nem o LBGT nem o outro. Não esqueça que o seu discurso sobre as minorias e respectivos direitos (que apoio sem dúvida)pode rápidamente resvalar para o deles ( o país... o estado da nação e o resto do bla bla que muito bem você aponta)
 
Não é um comentário ao post do Miguel, mas um comentário ao comentário do post. Penso que está em causa a problemática das "minorias", diria eu (sob influências epistemológicas), dos "dominados" atenderem a direitos detidos pelos "dominantes". Se a ambição em alcançar um direito possuido pelos heterossexuais é partilhada pelos homossexuais, quer-se tão somente dizer que há um desejo em regulamentar a situação dos casais homossexuais em Portugal. Na verdade seria mesmo uma experiência? Discordo: a aquisição de um direito como o casamento traduz-se em termos simbólicos. Por outras palavras, se o casamento entre pessoas do sexo oposto é legitimado pelo Estado, alargar esse direito a uma "minoria" como os homossexuais, irá aproximar a orientação sexual homossexual daquilo a que se pode chamar "normalidade".
Quando ao post do Miguel, são muitos os discursos que rondam a "falta de preparação da sociedade" para aceitar determinados aspectos legislativos... mas olhando mais atentamente, os processos nunca são lineares, ou seja, não há a lógica de partir da "sociedade" para a legislação, sendo a primeira aquela que impõe o direito; os caminhos cruzam-se, e é com base nestas trocas são formalizados aspectos que traduzem evoluções. Preparada? A "sociedade" é mutável e adaptável, é tudo menos estática! Alterando a legislação no sentido de permitir o casamento entre homossexuais -remetendo novamente para a questão do Estado como agente que legitima as formas de se conceber a sexualidade e a família- a "sociedade" simplesmente teria que se (re)estruturar... (e acredito bem que ela o aguente!)
 
Muito bom. O Teu texto. O comentário de Vanessa é procedente às 'nossas' discussões no blog. Se o casamento é um direito, que seja um direito para todos. Apenas faço notar: o casamento tem tanta jurisdição em cima que é preciso pensar muito para se casar, porque o tempo para se arrepender é grande e o custo financeiro, alto. Portanto, se é um direito, que seja a todos, independente de orientação sexual. Mas as consequências são muitas. Há quem diga, inclusive que 'quem pensa não casa'...
 
TINHA TOMADO O QUE QUANDO ESCREVEU? TAMBÉM QUERO....
 
É mesmo um país muito conservador. O LGBT está na onda conservadora, e no entanto afirma-se contestatário
 
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