OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


5.6.05  



Apresentação.
Esta é uma nova rubrica deste blog. Com ela pretendo dialogar em público com o partido a que pertenço. O Bloco construiu-se como um movimento, isto é, uma dinâmica de várias pessoas e sensibilidades preocupadas com a renovação da esquerda para os tempos modernos. Mas é claro que se transforma cada vez mais em partido - isto é, em organização. Não só isso é natural - pelo quadro político do país e devido ao crescimento e crescente responsabilidade do BE - como não vejo nisso um grande problema. Mas acontece que esse processo leva necessariamente ao que se poderia chamar diferimento da comunicação. Isto é: o debate de ideias fica cada vez mais moldado pela representação democrática: congressos onde se votam linhas de orientação e se elegem órgãos dirigentes até ao congresso seguinte. Tudo isto significa que diminuem o tempo e as condições práticas para o debate constante. Embora aceite o contrato democrático de seguir as orientações definidas em congresso e as decisões tomadas por órgãos dirigentes (e pertenço a um, embora não de prática política quotidiana), acho que o Bloco deve ser diferente - mais aberto à sociedade e ao debate. E acho que um partido político não é o mesmo que uma empresa, uma instituição do Estado, ou uma seita: é uma associação livre de cidadãos. Por isso apoiarei e criticarei, aqui, as posições do Bloco, consoante os casos. E faço-o em público porque ter um blog é em si mesmo assumir uma responsabilidade de comunicação das ideias. E espero que outras pessoas do Bloco apareçam também, enquanto tal, na caixa de comentários.

Autobiografia política provisória.
Para que se perceba de onde venho e ao que ando. No ano a seguir ao 25 de Abril, estava eu no liceu e imerso na "revolução" como toda a gente, aderi à juventude estudantil do PCP. Mas em 1977-78 abandonei a UEC, discordando não só com os métodos de organização como com a constante lavagem ideológica do estalinismo e do socialismo "real". Desde então e até aos início dos anos 90 não pertenci a nenhuma organização política: só ao movimento LGBT e a algumas associações de cidadãos - além de manter uma coluna semanal no Público durante alguns anos. Aderi então, nos inícios dos nineties, à Política XXI, um movimento que agrupava gente da Plataforma de Esquerda (Miguel Portas e outros saídos do PCP), do MDP/CDE, e activistas estudantis que tinham protagonizado lutas universitárias naquela época. A Política XXI, com a sua cultura de associação cidadã, de pensamento crítico e recusa de programas ideológicos dogmáticos, participaria da fundação do Bloco de Esquerda em 1999. Este é o meu "caldo de cultura". No meu blog e nesta rubrica quero reavivar o que (para mim, é claro) ele tem de melhor.

mva | 17:48|