OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


26.5.05  

Yumm.



«The Church tricked me and turned me into a cannibal!», diz este bloguista, ex-canibal (i.e., ex-católico) confesso. É claro que o tema da eucaristia, que os católicos celebram hoje, já foi muito glosado como sendo uma forma de canibalismo simbólico. Convém dizer que, dum ponto de vista antropológico, todo o canibalismo é simbólico, quer se ingira carne ou algo que a represente. O que importa é a noção de comunhão, de absorção das qualidades daquel@ que se ingere e que passa a ser parte de quem ingere: uma divindade, um antepassado, algo que é normalmente tabu e só deixa de o ser em circunstâncias cerimoniais específicas, representantes de grupos rivais, etc. Muitos protestantes apodaram a eucaristia de canibalismo. Os católicos dizem que não é tal coisa. Tanto uns como outros debatem este assunto porque a noção de "canibalismo" ganhou, na sua cultura comum (a Ocidental), o significado de coisa própria de bárbaros e selvagens - todos aqueles primitivos que precisavam de ser evangelizados. Isto é, que precisavam de abandonar a sua forma de canibalismo.

PS: Para saber mais num registo mais sério, há um número da Annual Review of Anthropology dedicado ao canibalismo.

mva | 18:14|