OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


12.5.05  

Concurso. Entrada 7.



Homens que me perseguem

No banco do largo central
Daquela pequena vila litoral
Espera-me aos fins de tarde
olhos de homens que me perseguem

Vão ali para me verem
Para me admirarem
Para me condenarem
Para me desejarem

Nunca falei com eles,
Jamais.

Sei quem são
Sei donde são
Sei o que querem
Sei mais deles
Do que eles próprios sabem

Sei que me admiram
Sei que me condenam
Sei que me desejam

Sei que tem medo de mim
Medo do que eu represento
De como eu me apresento
De como eu ando na rua
De como sendo o que sou
A minha vida continua
Numa vida que acham não poder ser a sua

Sei que tem medo de mim
Medo de que fale com eles
Se as pessoas sabem o que sou
E se pensam que eles são
Então decerto que aquele que comigo falou
Há-de ser tanto como eu sou
Um homem de perdição.

Sei que me admiram
Pela minha assunção
Represento para tantos homens
Aquilo que nunca serão!

Sei que me desejam
Que fale com eles
Que lhes toque
Na privacidade do banco de trás de um carro
Na escuridão de um quarto alugado.

Mas nunca falei com eles,
Jamais.

Sei quem são
Sei donde são
Sei o que querem
Sei mais deles
Do que eles próprios sabem

Sei que se com eles falasse
Tudo negariam em exaltação
- Que era importante que o povo soubesse
Quem começou com a conversação:
Eu!

Por isso nem adianta conversar!

Os olhos dos homens que me perseguem
São os mesmos que se masturbam culpabilizados
Se deitam ao lado da mulher
Depois dos miúdos já estarem deitados.


Oamis Seutam.

PS: O concurso acaba amanhã! (E não, não é um concurso só de poesia...)

mva | 19:15|