OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


11.5.05  

Coletes de alta visibilidade.

Talvez só hoje tenha respirado desde que regressei de Barcelona. Um regresso apressado pela morte duma pessoa querida da família transforma o regresso numa estranha experiência. Ao nevoeiro do luto seguiu-se o confronto com a já escandalosa falta de profissionalismo da terra, em assuntos-barra-contratempos a tratar. E o nevoeiro da memória colectiva, com uma sessão sobre o Holocausto no Instituto Goethe. E a convenção do Bloco. E n-mails (mais apropriado que e-mails) sobre isto, aquilo, não-sei-quantos e aqueloutro. E aproxima-se um Elas em Marte sobre homossexualidade, uma mesa sobre a "Constituição" Europeia no Forum Social em Évora, a concentração anti-homofobia em Viseu...

Hoje reemergi um pouco: nos correios, levantando uma caixa com livros enviada de Barcelona, aproveito para comprar um "colete de alta visibilidade" para o carro, a última moda-barra-lei da terra (os Correios são agora lojas de conveniência; também havia Paulo Coelho à venda - literatura de alta visibilidade...) . Páro no meio da rua e penso: como é que numa terra com tantas solicitações, tantos telefonemas, tantas iniciativas, tantos encontros, debates, conferências, colóquios, seminários, programas, tertúlias, congressos, reuniões, vamos-tomar-um-café, vamos-almoçar e quando-é-que-a-gente-se-vê, não acontece, afinal de contas, nada?

Recomecei a ler, agora a sério, o Medo de Existir.

mva | 18:56|